27/06/2009

Escola do olhar

A arte, que preparou o chão para o idoso e curvou a abóbada celeste para o cristão, é agora desperdiçada em latas e pulseiras. Estes tempos são piores do que se pensa.
Johann W. Goethe



As fotos mostram outro jardim do Festival de Ponte de Lima, que as autoras (Carla Correia e Vera Elvas) intitularam Pintando (n)o jardim. Combinam-se nele, com certa irreverência mas sentido fascínio, a ideia e a forma de um bocado de mundo dividido por cores. A rota sugerida leva-nos até canteiros com molhos de Achillea filipendulina, Osteospermum sp., Salvia splendens, Tagetes patula, Verbena "Temari Blue".

O material não convencional nesta fusão é o lençol que, estendido como roupa limpa mas maculado de tinta, assinala os torrões onde as plantas parecem ter sido obrigadas a respeitar certa paleta de tons. Estas telas perfiladas estão em posição que lhes permite, com suave brisa, receber o visitante com uma discreta vénia, e, levantadas por vento impetuoso, formar um tecto que duplica o chão. São manuais que nos ensinam a ver, que encurtam a distância entre o mapa e o lugar.

Pintura e a paisagem têm neste jardim a mesma idade, mas reparamos na insignificância do traço da primeira pelo contraste com a autenticidade da segunda. Os salpicos nos panos evocam vagueações entre montanhas, em atmosfera rarefeita, ali onde o horizonte é vasto mas a lonjura torna a natureza indistinta. Ao contrário da paisagem, o quadro cabe em casa mas dele ouvem-se sons, não acordes.

1 comentário :

Estela disse...

O olhar se fixa nas pinturas dos lençóis enquanto o pensamento voa para lugares nunca dantes visitados. Lugares que trazem saudade não se sabe bem do quê.
Bjs.