Bons ares de outras terras
Há em Alfena, perdido entre eucaliptais, um milagroso prado húmido que merecia ser declarado micro-reserva botânica. Contam-se em mais de uma dezena as espécies que, sendo escassas ou mesmo desconhecidas na região do Porto, tiverem artes de lá se instalar: Isoetes, Potamegeton polygonifolius, Baldellia alpestris, Gentiana pneumonanthe, Radiola linoides, Cirsium filipendulum, Hypericum elodes, Anagallis tenella, Scutellaria minor, etc. O incêndio que varreu o local no Verão passado levou ao alargamento do caminho junto ao prado, e não tardou que os veículos todo-o-terreno ameaçassem reduzir toda a diversidade vegetal a uma sopa lamacenta. Felizmente, a Câmara de Valongo, em resposta aos alertas, espetou umas estacas no chão para desviar os monstros motorizados. E talvez este ano, ao contrário do que o pessimismo nos segredava, regressem as plantas que fizeram a nossa alegria.
Uma das plantas que conquistou um timeshare no prado foi esta verbena altaneira com todo o ar de ser alienígena. Na verdade, a grande maioria das cerca de 250 espécies do género Verbena nasceu nas Américas — do Norte, Central ou do Sul — e a V. bonariensis, originária do Brasil e da Argentina, não é excepção. O epíteto específico refere-se aliás à cidade de Buenos Aires. É uma planta erecta e vistosa, de floração estival, capaz de atingir um metro e vinte de altura, com haste de secção quadrangular e folhas rugosas dispostas aos pares. Por via da sua utilização em jardinagem, naturalizou-se em muitos países de clima tropical ou temperado, a ponto de por vezes se tornar invasora indesejável.
Em Portugal, único país europeu onde ela fugiu dos jardins para a natureza, a Verbena bonariensis, por ser pouco comum, não parece constituir problema de maior. Contudo, talvez nos Açores o caso mude de figura: encontrámo-la em número apreciável na ilha Terceira, por exemplo em redor do paul da Praia da Vitória.
1 comentário :
que prazer ler o que escreve
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