Furalha malfurada
Hypericum foliosum Aiton
Uma das plantas endémicas açorianas que melhor resistiu à ocupação humana e ao avanço das espécies exóticas foi este hipericão robusto e avantajado que, pelo porte (pode chegar a 2 m de altura) e pelo aspecto geral, faz lembrar o hipericão-do-Gerês (Hypericum androsaemum). Deve contudo reconhecer-se que o hipericão açoriano (a que os ilhéus chamam furalha, malfurada ou milfurada) é o mais vistoso e bem proporcionado dos dois, não sofrendo de discrepância entre o tamanho das folhas e o das flores.
O H. foliosum leva a sério o preceito darwinista de que para sobreviver é preciso adaptar-se. Além de frequentar assiduamente o pouco que resta da floresta natural das ilhas, também é visto em plantações de criptomérias e em matas de incenso (Pittosporum undulatum), em falésias e encostas, em bermas de estrada, e até, como planta pioneira, em taludes resultantes de derrocadas.
Dada a sua ubiquidade, é algo surpreendente que só o tenhamos visto florido uma única vez, no último dia da estadia na ilha das Flores, em Junho. As visitas anteriores ao arquipélago tinham sido a outra ilha (Terceira) e num mês já tardio (Outubro), mas Junho parecia perfeito, pois os manuais prescrevem, para o H. foliosum, um período de floração de Abril a Junho. Mas a verdade é que nas Flores não é assim: no princípio de Junho está ainda tudo atrasado. Foi só a baixa altitude, no norte da ilha, que vimos uns poucos arbustos com floração incipiente — um feliz encontro só possível por os aviões não terem voado nesse dia.
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