18/11/2011

Queria ser Queria

Arenaria querioides Pourr. ex Willk.
Há quem não goste de doces, nem se tente por um chocolatinho a meio da tarde, e que nas festas se agarre aos pratinhos de azeitonas ou aos de polvo avinagrado. Entre as plantas também se encontram extravagâncias de paladar, e esta é, nesse particular, um mau garfo. É calcífuga e não se dá a altitudes inferiores a 700 m, por isso restringe-se a clareiras de matos e ladeiras de montanha com solo pedregoso rico em sílica. Apesar da baixa estatura, é perene e por vezes lenhosa. Os caules são penugentos e nota-se que a folhagem é densa, de folhas rígidas que se unem na base, com uma nervura média e margens esbranquiçadas.

Este ano quase não a víamos florida porque só a avistámos em Julho. Em Maio próximo, as inflorescências estarão mais vistosas, com flores de cinco pétalas acetinadas a encimar hastes acastanhadas de uns quinze centímetros. Trata-se de um endemismo ibérico que ocorre apenas no noroeste e no centro da Península. Há registo de variações morfológicas: na serra da Estrela, Brotero e Coutinho assinalaram a existência de populações do que parece ser uma subespécie de menor altitude, mais rasteira e de flores solitárias.

O epiteto querioides significa "semelhante a Queria" — talvez Queria hispanica, hoje em dia sinónimo de Minuartia hamata. Por essa e por outras arrumações taxonómicas, o género Queria já não tem representantes na flora europeia. Lineu utilizou-o para homenagear o botânico espanhol José Quer y Martínez (1695–1764), cujas viagens e colheitas de plantas e sementes estiveram na origem do espólio do Real Jardín Botánico de Madrid. A correspondência com Lineu terá sido suscitada pela Flora Espanhola que Quer escreveu e Casimiro Gomez Ortega (1741–1818) terminou de publicar.

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