02/08/2014

O sol no Egipto


Helianthemum aegyptiacum (L.) Mill.


É um sol pálido e de vida curta aquele que estas flores representam. A exemplo do girassol (género Helianthus) e da verrucária (Heliotropium europaeum), também as plantas do género Helianthemum têm a reputação, plasmada no nome científico, de virarem as flores para a luz do sol. Mas na verdade não sabemos se o H. aegyptiacum cumpre esse tropismo, pois as suas flores são tão débeis e efémeras, deixando cair as pétalas por exaustão ao fim de duas ou três horas, que raramente as podemos ver. O hábito de descartar sem demora a produção florística de cada dia é comum a todas as cistáceas, mas nas estevas, sargaços e tuberárias as flores ainda se aguentam até ao fim da tarde, derramando-se então à volta da planta num tapete de pétalas brancas, rosadas ou amarelas.

Descrita por Lineu em 1753 como Cistus aegyptiacus, e mudada um século mais tarde por Philip Miller para o género Helianthemum, esta herbácea anual de floração primaveril e não mais que 30 cm de altura gosta de lugares secos e soalheiros, de preferência arenosos: gosta, em suma, do Egipto e dos desertos enfeitados com pirâmides. Aceita, contudo, relaxar essas exigências, e por isso frequenta os dois lados da bacia mediterrânica, alcançando o norte da Península Ibérica e, em Portugal, a Terra Quente transmontana. Mas o Egipto, terra que tantos apetites coloniais atraiu, era nos séculos XVIII e XIX mais interessante e acessível aos viajantes e estudiosos norte-europeus do que os países do sul da Europa. Talvez por isso tanto Lineu como Miller indiquem o Egipto como terra natal desta cistácea, ignorando a sua presença no continente europeu.

Philip Miller (1691–1771), botânico e jardineiro inglês, fornece pretexto para a nossa segunda menção do Chelsea Physic Garden em poucos dias. Miller foi sucessor de Samuel Doody como jardineiro-chefe do histórico jardim londrino, mantendo-se no cargo durante 48 anos. Com início em 1741, foi publicando edições sucessivamente aumentadas do seu Gardeners Dictionary, com a oitava e última edição (um tomo de mais de 1300 páginas) a surgir em 1768. Esses Dicionários para Jardineiros, apesar de incluírem abundantes conselhos sobre o cultivo de plantas, eram genuínos tratados científicos, e asseguraram ao autor um lugar entre os grandes botânicos da história. Sobre a emancipação do género Helianthemum, que consta da derradeira edição do Gardeners Dictionary, Miller justifica-a com o facto de as cápsulas dos frutos terem apenas três segmentos, enquanto que as plantas que optou por manter no género Cistus dão em geral cápsulas com cinco segmentos. Esse critério, com alguns aditamentos que justificaram a posterior partição do género Helianthemum em géneros adicionais (entre eles Tuberaria e Fumana), é ainda hoje aceite e válido.

3 comentários :

Alexandre Leite disse...

Qual a nossa relação com as árvores com flores?
http://www.publico.pt/ecosfera/noticia/qual-a-nossa-relacao-com-as-arvores-com-flores-1665018?page=-1

Carlos M. Silva disse...

Olá

Pode ser frágil mas a flor, quase cândida, é belíssima. naqueles dois tons de amarela.
Obrigado por a mostrarem.
Carlos M. Silva

bea disse...

Na verdade, uma condição de peso nos viventes é o seu efémero, mas a efeméride de cada espécie - nos humanos, de cada indivíduo ou mesmo de cada situação por ele vivida - não é idêntica.

Os espécimes em causa parecem moinhos amarelos em acenos de alegria, lindos no seu diminuto, apreciáveis enquanto duram. Em algum tempo, são elas, inteiras e completas no tempo que as consome.

Parabéns a quem fotografou "o momento da rosa abrir".

Boas Férias. Muitos passeios pelo mundo silvestre. E pelos outros.

Até Setembro:)

Contudo, no Egipto, tanto o sol tarda, atordoado de nuvens.