03/02/2015

Espadas verdes



Antinoria agrostidea (DC.) Parl.


As folhas flutuando à tona de água parecem outras tantas alpondras que nos convidam a pôr o pé e a atravessar para a outra margem, coisa que faríamos de bom grado se fôssemos pequenos e leves como os bichos aquáticos. As mais seguras e convidativas são as folhas redondas dos nenúfares e aparentados, mas também as há compridas e pontiagudas, que lembram as espadas inofensivas das brincadeiras infantis. Nos lagoachos da serra da Estrela são duas as espécies de plantas aquáticas que estendem tapetes de espadas verdes: o Sparganium angustifolium e esta Antinoria agrostidea. Uma e outra têm efeito cénico semelhante, mas pertencem a famílias botânicas distintas, distinguindo-se facilmente pelas inflorescências: as do Sparganium são globulosas, dispostas numa haste curta, enquanto que as da Antinoria aparecem em panícula, e são formadas por espiguetas tingidas de roxo. Na ausência de frutos ou flores, a diferenciação também não é difícil, pois as folhas do Sparganium são em regra bem mais compridas, e as da Antinoria são percorridas por sulcos longitudinais profundamente marcados. Em qualquer caso, só mesmo na serra da Estrela, único lugar de Portugal onde ocorre o Sparganium angustifolium, é que pode pôr-se a dúvida. Já a Antinoria agrostidea vai aparecendo aqui e ali, sobretudo nas zonas montanhosas, em charcos ou lagoas de águas límpidas, ou em rios pouco profundos e de fraca corrente.

Esta Antinoria é uma gramínea versátil, e dela se conhecem várias formas. A versão aquática (a mais comum no nosso país) é uma planta perene, enraizante nos nós, e goza de reconhecimento taxonómico (não unânime) como A. agostidea subsp. natans (Hack.) Rivas Mart. A subespécie nominal, por seu turno, gosta de sítios húmidos mas não de estar mergulhada na água, tem folhas e caules erectos, e inclui tanto plantas perenes como plantas anuais, havendo porém quem separe as formas anuais numa terceira subespécie, chamada annua. Apesar de alguns autores, entre eles Franco & Rocha Afonso no vol. III da Nova Flora de Portugal, entenderem que não se justifica qualquer diferenciação a nível de subespécie, não é essa a opinião que tem prevalecido recentemente.

1 comentário :

ZG disse...

Bela gramínea serrana flutuante de água doce, sem dúvida!