Um jardim assim (3.ª parte)
Euphorbia peplus L.
Quem tiver esta planta nos seu jardim talvez goste de saber que é acompanhado na sua (chamemos-lhe assim) desdita por jardineiros de todos os continentes, a ponto de os franceses lhe chamarem euphorbe des jardins. Embora a sua área de distribuição original se fique pela África, Europa e Ásia, a Euphorbia peplus está firmemente estabelecida no resto do mundo como hóspede tantas vezes indesejável de terrenos baldios, jardins, pastagens e terras cultivadas. Planta anual de porte modesto (10 a 30 cm de altura), glabra, de folhas que lembram gotas de água, caules avermelhados e inflorescências em forma de umbela, distingue-se de outras eufórbias pelas longas caudas que rematam os nectários (observáveis na 3.ª foto em cima).
A Euphorbia peplus tem registados pelo menos dois nomes comuns na nossa língua: ésula-redonda e sarmento. Embora seja improvável que alguém os use, eles não são inteiramente implausíveis, já que ésula parece aplicar-se à generalidade das eufórbias e sarmento talvez resulte de uma tresleitura de sarnento, sugerindo que a planta tem alguma utilidade em doenças dermatológicas. Como todas as eufórbias, também a E. peplus é tóxica e segrega um látex irritante para a pele. Contudo, e em obediência ao princípio de que aquilo-que-arde-ajuda-a-curar, o mesmo látex (desta eufórbia, não de outras) tem sido tradicionalmente usado contra certas lesões cutâneas. Em anos recentes, a medicina científica resolveu comprovar-lhe a eficácia, e o resultado dos testes clínicos não podia ser mais promissor. Uma molécula extraída da planta (mebutate ingenol) foi aprovada em 2013 nos EUA para o tratamento de certas formas incipientes de cancro da pele (ceratose actínica e carcinoma basocelular), comuns em pessoas de pele clara que se expõem demasiado às radiações solares. Com a generalização desse tratamento, eis que uma erva sem eira nem beira, ou daninha como alguns gostam de lhe chamar, se revela altamente benéfica para a saúde humana. Em lugar de ser perseguida com herbicidas, não tardará que ela seja cultivada em larga escala para a produção de medicamentos.
3 comentários :
Ainda bem que descobriram utilidade para esta planta maravilhosa!!
Que boa descoberta! E eu com tantas por aí, a esmo.
Acho-as com alguma graça em seus bracinhos avermelhados
Olá Paulo e Maria
Obrigado.
Não ia lá ..pelo menos donde vinha, já que a tenho e tinha desde 2008, talvez a 1ª das 4 que cá por casa encontrei e fotografei e estava desgraçadamente sem nome.
De facto parece que as daninhas são mesmo danadas (pelo menos para mim).
Obrigado e abraço.
Carlos
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