14/02/2015

Estrela perdida


rio Tâmega — Vilarinho da Raia, Chaves
Até há pouco tempo, o Tâmega era para nós um rio farto que galga com vigor alguns desníveis junto a Amarante, ali inspira os nomes de apetecíveis doces conventuais, e termina cansado e poluído no rio Douro, perto de Marco de Canavezes. Há dias decidimos seguir-lhe o rasto a montante, onde é o Támega, para o ver mudar de acento e tornar-se português: junto a Vilarinho da Raia toca durante uns três quilómetros o território nacional, sendo aí a nossa fronteira com Espanha, e só então decide virar à direita e entrar definitivamente em Portugal, encaminhando-se para Chaves. Nos mapas, a linha de fronteira em Vilarinho da Raia segue mais ou menos a meio do rio, assegurando metade dele para cada país; na prática, o curso de água ali é estreito o bastante para que os pescadores de um lado possam facilmente conviver com os do outro enquanto o peixe transfronteiriço não morde a isca.



Aster lanceolatus Willd. [= Symphyotrichum lanceolatum (Willd.) G. L. Nesom]

A água e as margens dessa faixa luso-espanhola de rio não estão bem cuidadas. Por certo, como no caso de parques ou estradas partilhadas por várias freguesias, cada lado espera que o outro faça a necessária manutenção da beira-rio, e nesse entretanto aquele habitat tão promissor, onde encontrámos exemplares de Cucubalus baccifer, Humulus lupulus, Geum urbanum, Saponaria officinalis, Solanum dulcamaraSparganium erectum, Frangula alnus, Prunus spinosa, Ulmus minor, e até um pequeno bosque de Quercus pyrenaicaestá a degradar-se. Esta asterácea alta (pode atingir um metro e trinta de altura), perene e quase arbustiva, com folhas lanceoladas, glabras, de um verde intenso que contrasta harmoniosamente com as lígulas brancas, por vezes azul-violáceas, das inflorescências, tem origem norte-americana. Talvez tenha escapado de algum jardim, mas não deveria estar naquele local. Alguns dirão que, face à presença de acácias, silvas e tintureiras, uns poucos pés desta herbácea são um mal menor num ambiente tão alterado. Não nos surpreenderá, porém, que daqui a uns poucos anos ela se tenha vulgarizado nas margens do rio Douro, e além. Depois não se diga que não avisámos.

Esta margarida mudou de designação científica, pertencendo agora ao género Symphyotrichum, para onde migraram quase todas as plantas do género Aster nativas da América do Norte e com capítulos florais grandes, agrupados em panículas.

2 comentários :

bea disse...

Algumas plantas correm quilómetros, deixadas quem sabe por restos de lixo, ventos fortes ou outro qualquer transporte inconsciente...neste caso o risco é que se substituam à flora natural da beira rio. Mas ainda assim, encontrá-la é um prazer dado a olhos leigos.

ZG disse...

Bela composta exótica norte-americana, sem dúvida!