11/04/2015

Sementes que cantam


Ilha de Tavira: comboio da praia do Barril

Planeámos uma visita à ilha de Tavira em pleno Inverno para a conhecer sem o rebuliço da época balnear e ali ver algumas das plantas do areal que preferem florir durante a época fria. Chegados ao aldeamento de Pedras d'el Rei, cruzámos uma ponte estreita e bastante curvada, e embarcámos num vagão com bancos de escola primária, puxado por uma máquina a vapor de brinquedo, que nos levou, sem ruído nem pressa (a distância era curta: apenas 1 Km), até à praia do Barril. Apeados perto do mar, deparámo-nos com várias casas de apoio a veraneantes e com uma longa fiada de casuarinas (Allocasuarina torulosa) — árvores essas que, sem dúvida, garantem abençoada frescura nos meses quentes, mas não condizem com a paisagem que esperávamos encontrar num habitat prioritário do Parque Natural da ria Formosa.

Durante a viagem de comboio notámos, entre a vegetação predominantemente rasteira, uns arbustos de ramagem ondulante pejada de flores brancas.



Retama monosperma (L.) Boiss.


Reconhecêmo-los porque já havíamos visto no Alentejo um arbusto aparentado (Retama sphaerocarpa) que dá flores amarelas durante a Primavera-Verão, e cujos frutos, que têm a casca dura e a semente solta (raramente é mais do que uma) a chocalhar lá dentro, soam como minúsculas cabaças de percussão.

A retama (vassoura em espanhol) que vimos na praia do Barril, e de que se conhecem numerosas populações em dunas secundárias ou em pinhais costeiros do litoral centro e sul do país, é hoje em dia mais fácil de avistar porque tem sido utilizada na revegetação dos taludes e separadores das auto-estradas. Junto ao mar, ela sabe proteger-se do vento e da maresia: os talos novos são penugentos e as flores também se agasalham com basto pêlo; além disso, os galhos sem espinhos são maleáveis e abanam sem quebrar (por isso, fazem-se com eles vassouras afamadas). Nas estradas terá de resistir aos herbicidas e às roçadelas frequentes que por certo deformarão o porte de tamargueira que lhe é característico.

O género Retama, que já se chamou Lygos (termo grego que alude aos talos flexíveis) e talvez venha a integrar-se no género Genista, abriga apenas duas espécies espontâneas na Península Ibérica. A de flores brancas é conhecida como piorno-branco e (quem sabe, também entre os ingleses que frequentam o Algarve) como bridal veil broom.

3 comentários :

Paulo Barracosa disse...

Admiro o vosso trabalho, já estivemos há uns bons anos no Fontelo, num dia em que falamos de árvores e cogumelos e encontramos uma Amanita cesarea... Hoje por curiosidade fui visitar o vosso blogue e falam da minha praia de há mais de trinta anos.
deixo-vos este link por curiosidade e sobre as plantas da praia do Barril haveria muito por dizer...parabéns pelo vosso trabalho! Paulo Barracosa
http://biogere-esav.blogspot.pt/2010/04/e-se-hoje-fossemos-as-putegas.html

ZG disse...

Belo arbusto e belo minicomboio!!

bea disse...

A retama de flor branca é bem bonitinha. Já conhecia a de flor amarela, boa para vasculho - nome que na minha terra se dá a uma vassoura maior em largura e comprimento cuja utilidade se cinge ao varrer da rua. Confirmo: é óptima vassoura.