Suspiros com folhas de arruda
Pycnocomon rutifolium (Vahl) Hoffmanns. & Link
Guardámos o último dia da nossa estadia no Algarve, em Fevereiro, para visitar o Alvor, lugar que evoca o acordo assinado, em Janeiro de 1975, por Portugal e pelos movimentos de libertação de Angola. Chovia bastante e o ar impregnado de maresia saturava o ambiente, relembrando-nos que ali há outra ria, a de Alvor. Mais uma vez não é bem uma ria mas um pequeno rio, que reúne as águas de quatro ribeiras que nascem na serra de Monchique e que desaguam num estuário largo onde coabitam dunas cinzentas, praias, sapais salgados, terrenos agrícolas, mato natural e pinhal. Este é um habitat classificado como Sítio de Importância Comunitária, galardão que se espera suficiente para que seja devidamente conservado.
Parecia, junto ao caminho para a praia, que alguém fizera dispor inúmeros coxins verdes, de folhas muito divididas, com antenas espetadas, uma ou outra encimada por capítulos de flores brancas. Já nos tínhamos cruzado com estas plantas na Ponta da Areia, em Vila Real de Santo António, mas nessa altura circulávamos num passadiço alto que não permitiu fotografá-las em pormenor. Desafortunadamente, a chuva forte obrigou-nos a abreviar o passeio na praia mas, com dois guarda-chuvas tentando proteger fotógrafo e objectiva, foi possível registar estas flores de Inverno. Parece que a floração da planta atinge o auge no fim da Primavera; suspeitamos que, por essa altura, estes herbáceas altas de folhagem basal densa quase ocultarão a areia com o seu lençol de flores brancas.
O género Pycnocomon contém uma espécie da região mediterrânica (P. rutifolium, cuja distribuição conhecida em Portugal pode ser vista aqui), e um endemismo da Península Ibérica, Pycnocomon intermedium, de flores arroxeadas, que também aprecia solos arenosos, sejam do litoral ou do interior. O leitor pode comparar, nestas fotos sem salpicos de chuva, aspectos morfológicos das folhas, flores e frutos das duas espécies, e obter na mesma página mais informações sobre as suas preferências ecológicas.
3 comentários :
Muito agradecido, Maria, pela gentileza. Abraço para si e para o Paulo.
Verdadinha. Costumo encontrá-las espalhadas pelos pinhais, em tufos breves.
Muito interessante e bem escrito, como sempre!
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