A romúlea que faltava
Romulea columnae Sebast. & Mauri
Os nossos passeios pelo país, à procura de flora ou habitats que nunca vimos, têm uma propensão natural para locais com espécies mais raras. Em si, esse pormenor não acrescenta ânimo às caminhadas nem entusiasmo à pesquisa, mas não resistimos, sempre que a ocasião se proporciona, ao arrebatamento que se sente quando se fecha um capítulo de uma colecção. Pois bem: relativamente ao género Romulea, faltava-nos este cromo. Por isso, quando o João Lourenço gentilmente nos informou que vira esta espécie num pinhal em Amorosa, Viana do Castelo, corremos para a conhecer. Decerto o leitor quererá saber por que um tal achado é tão valioso, e aqui estamos para satisfazer a sua curiosidade.
Em Portugal ocorrem espontaneamente apenas quatro espécies de Romulea, e a folhagem desta, feita de tubos longos e fininhos, difere pouco da das outras três espécies. A flor, porém, é muito mais pequena, detalhe que nem sempre as fotos exibem com clareza: as tépalas medem cerca de 1 cm de comprimento. Dê agora, caro leitor, toda a sua atenção ao centro da flor: está lá uma coluna envolta em pólen amarelo-alaranjado que protege tão bem o estigma que este mal se nota. Apesar do receituário botânico mencionar mais características que ajudam à identificação, é precisamente esta particularidade que assegura que se trata da R. columnae.
Nativa do bacia mediterrânica, do oeste europeu e da Macaronésia, e apreciadora de lugares arenosos e arejados, em geral pisoteados no Verão, a R. columnae costuma florir no final do Inverno. Isso é de alguma ajuda na detecção de planta tão esquiva, pois a vegetação herbácea tem ainda porte diminuto nessa altura do ano. A glória é, contudo, breve: logo depois a planta hiberna, ficando reduzida a um bolbo subterrâneo, e só volta a mostrar-se no ano seguinte.
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