Amarelo das estradas
Verbascum sinuatum L.
A acreditar nos palpites etimológicos que se podem respigar aqui e ali, a palavra latina Verbascum, que já na antiguidade designava estas plantas altaneiras e de vistosa floração amarela, seria uma corruptela de barbascum. Não será pois muito disparatado traduzi-la por erva-barbuda. Essa propensão para a pilosidade, por vezes tão abundante que a planta se vê forçada a largá-la sob a forma de flocos, é menos evidente neste V. sinuatum do que por exemplo no V. pulverulentum. Ainda assim, a erva-barbuda-ondulada (nome comum acabado de inventar, sem esperança de que outros o adoptem) é assaz provida de agasalho para não desmerecer tal designação. Se fôssemos pedantes, traduziríamos sinuatum por sinusoidal, mas, como se vê pela foto, o termo é uma descrição apropriada da folhagem basal de uma planta que, como quase todas as suas congéneres, tem um ciclo de vida bienal. No primeiro ano, só aparece a inconfundível roseta basal; e, paradoxalmente, é mais fácil reconhecê-la nessa fase do que no seu segundo e último ano de vida, altura em que desenvolve uma inflorescência ampla e algo desgrenhada. Os verbascos são bonitos, e prestam um inestimável serviço público ao ajardinarem voluntariamente bermas de estrada e outros lugares desprezados, mas são todos muito parecidos e dar-lhes o nome correcto exige observação paciente. Contudo, se o leitor pousar os olhos neste quadro, a sua tarefa fica muito facilitada. Há-de notar que os verbascos se diferenciam por terem inflorescência simples ou ramificada, pelo maior ou menor comprimento dos pedúnculos, pela penugem dos estames, pela disposição mais ou menos densa das flores ao longo do caule. Assim, o Verbascum sinuatum, além de ter um porte bem mais modesto do que o V. pulverulentum, e de se distinguir deste igualmente pela folhagem, também se singulariza pela penugem lilás que cobre os estames. A forma das folhas caulinares (3.ª foto em cima) pode, se necessário, ajudar a dissipar dúvidas.
João do Amaral Franco, no vol. 2 da sua Nova Flora de Portugal, informa que o V. sinuatum é uma planta vulgar, presumindo-se que esteja presente em todo o território continental português. A Flora Ibérica corrobora a ideia, listando-a para todas as nossas províncias. Os registos no portal Flora-On sugerem porém que a sua presença a norte do Douro é muito esporádica; e que em Portugal ela ocorre com maior frequência nos afloramentos calcários, não tendo embora uma preferência declarada por tais substratos. Globalmente, a sua área de distribuição abrange toda a bacia mediterrânica.
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