15/12/2015

Cura amarela


Gentiana lutea L.


O género Gentiana é famoso pelas flores tubulares de um magnífico azul arroxeado, pintalgadas de branco ou dourado, que conhecemos da Gentiana pneumonanthe. É esse o padrão da maioria das espécies alpinas deste género, herbáceas perenes ou anuais de estatura baixa, com folhas opostas e flores terminais, que se aninham em fendas de rochas graníticas, urzais, prados húmidos, turfeiras e pastagens de montanha. Mas há uma espécie de Gentiana do centro e sul da Europa (que também ocorre na serra da Estrela, embora vários guias de campo garantam que não, como o de Oleg Polunin e B.E. Smythies, Flowers of South-West Europe, 1997, da Oxford University Press) que não segue a moda. As plantas dessa espécie são robustas e altas (podem atingir um metro e meio de altura), de folhas glaucas, largas e de nervação vincada; na floração, enfeitam-se com uma haste erecta dividida em patamares recheados de flores amarelas (por vezes avermelhadas) protegidas por duas brácteas em concha, havendo, curiosamente, no topo da haste, uma flor solitária adicional (veja-a nas duas primeiras fotos); e as flores não são nem tubulares nem sarapintadas.

Tentámos vê-la em flor em verões sucessivos na serra da Estrela, sempre sem sucesso: ou era cedo de mais; ou a planta ainda era jovem e não floriria nesse ano; ou já tinha florido mas um cabrito tinha-lhe comido a haste; ou havia hastes mas sem as flores, cortadas por gente que as usa em tónicos ou licores, embora as virtudes medicinais estejam de facto nas raízes e rizomas. Restou-nos a solução de que há muito se servem alguns dos azarados e infelizes candidatos ao curso de Medicina nas universidades portuguesas que falham o acesso por umas poucas décimas: virámo-nos para Espanha e tivemos finalmente acesso a muitas Gentiana lutea em flor. No Pico Tres Mares, a população que encontrámos tinha tantas centenas de indivíduos que se puderam observar plantas ainda imaturas, outras completamente floridas e várias já com os frutos.

A Flora Ibérica regista a presença em Espanha de duas subespécies, G. lutea subesp. lutea e G. lutea subsp. montserratii, além de híbridos da G. lutea com a G. burseri. O leitor interessado poderá ver no portal Anthos imagens destas subespécies, bastando que procure na galeria fotográfica o género Gentiana, e observar como dão flores claramente diferentes.

2 comentários :

bea disse...

Não a encontro especialmente bonita, mas é vigorosa.

ZG disse...

É uma belíssima gencianácea, bem medicinal, ao que consta - era até colhida pelos pastores dos Montes Hermínios - e raríssima entre nós. Só uma vez tive a boa sorte de a observar, e não estava em floração, só no estado folhoso, em pleno Verão!