08/12/2015

Trevo alpino


Trifolium alpinum L.
Quando vemos vacas e ovelhas focinhando a verdura dos prados num incessante afã mastigador, é de supor que os trevos sejam parte substancial da sua refeição. Estando nós um degrau acima na cadeia alimentar, a dedução imediata é que, indirectamente, também nos alimentamos de trevos, seja quando bebemos leite ou quando devoramos um bife. Como, ao contrário do que sucede com outras verduras, nunca dispensámos os intermediários, é provável que os trevos não nos sejam agradáveis ao paladar. E talvez os laticínios e carnes que consumimos não tenham assim tão grande percentagem de trevos na sua composição, já que, em vez de ruminarem à vontade pelos campos, muitos dos animais que contribuem para a nossa dieta vivem em estábulos e alimentam-se de rações.

Dito isto, a importância dos Trifolium não se resume ao seu uso como plantas forrageiras. Como quase todas as plantas leguminosas, os trevos ajudam a fixar azoto no solo, enriquecendo-o e diminuindo o recurso a adubos químicos. Além disso, entre as quase trezentas espécies do género, sessenta na Península Ibérica, muitas são as que têm genuíno interesse botânico, quer pela raridade, quer pela formosura, quer por alguma característica peculiar: o trevo-subterrâneo, por exemplo, enterra as suas sementes com o mesmo cuidado com que uma ave guarda os ovos no ninho.

Os trevos mais comuns nas nossas pastagens, como o T. repens, o T. pratense ou mesmo o T. incarnatum, fizeram-se cosmopolitas por acção humana, sendo tão usados na alimentação do gado na América, Nova Zelândia e Austrália como na Europa e na Ásia, de onde são originários. O uso intensivo de sementes importadas levanta a suspeita de que, mesmo em lugares semi-naturais, a maioria dos trevos que encontramos se naturalizaram a partir de estirpes estrangeiras, em vez de constituírem populações autóctones. Claro que essa desconfiança só se coloca em relação às espécies cultivadas — que, apesar de serem escassas em número, são versáteis nas preferências de habitat e surgem com grande assiduidade.

O trevo-alpino (Trifolium alpinum) que vimos no Pico Tres Mares pertence indubitavelmente àquele lugar e faz parte, há muitos milénios, da dieta primaveril ou estival dos herbívoros que frequentam tais altitudes. Os seus cachos de flores rosadas, de tão grandes e vistosas que são (cada uma tem de 2 a 3 cm de diâmetro), não denunciam o género em que se filia, e só soubemos que era um trevo ao vermos-lhe as folhas trifoliadas. É uma planta perene, de base lenhosa, com hastes que podem ultrapassar os 20 cm de altura, dotada de folhas com pecíolo comprido (até 10 cm) e folíolos alongados. Aparece em quase todas as grandes montanhas da Europa ocidental (Apeninos, Alpes, Pirenéus, Cordilheira Cantábrica) e sua vocação para as alturas é indesmentível, pois recusa instalar-se abaixo dos 1000 metros de altitude e pode subir até aos 3000.

2 comentários :

ZG disse...

Belo trevo alpino, efectivamente!!

bea disse...

O trevo alpino é muito selectivo na escolha do habitat e deixa aos portugueses poucas oportunidades. Mas o interior das vacas deve ficar vistoso com a mistura de verde e rosa. Ou se calhar não, é só uma pasta informe e de cor indefinida que depois se transforma em sangue e bosta. Coisas.