06/06/2016

Solidão em flor


Scrophularia lowei Dalgaard


Mesmo a um olhar pouco treinado não escapa o parentesco da planta das fotos, quando em floração, com as do género Scrophularia, de que a Península Ibérica é uma região bem provida, contando com o maior número de espécies na Europa, metade das quais são endémicas. As flores são pequenas mas proeminentes e muito procuradas por abelhas por serem generosas em néctar. Nota-se um cálice robusto e uma corola bilabiada de tom violeta, púrpura ou vermelho alaranjado, parecendo que o lábio superior bífido forma as orelhas do rato Mickey.

Este endemismo do arquipélago da Madeira é uma planta pequena (de meio a um metro de altura) com talos glandulosos e folhas ovadas, glabras, de margens duplamente serradas. As flores diminutas nascem em cimeiras axilares (como é frequente no género) bem seguras por cálices de pé longo. A corola é tubular e bilabiada, mas distingue-se bem das outras do arquipélago e das peninsulares pela conjunção de dois pormenores: as flores são brancas com manchas púrpura; as anteras são vermelho-púrpura.

Esta herbácea é anual e ocorre em locais rochosos de baixa altitude na ilha da Madeira, em alguns picos e ilhéus do Porto Santo e nas Desertas. Mas parece ser muito rara no Porto Santo: nas nossas andanças, só vimos este exemplar, numa encosta do Pico do Castelo. Talvez lhe falte um polinizador eficiente ou tenha uma capacidade reduzida de adaptação aos vários estragos que se vão fazendo no seu habitat. Há indícios de que, na companhia de outros endemismos, se estará a refugiar nos ilhéus de Porto Santo, o que pode ser uma boa notícia. O Porto Santo tem seis ilhéus (da Cal, o maior e com antigas minas de calcário; das Cenouras; de Cima, onde a S. lowei é abundante; de Fora; de Ferro; da Fonte da Areia), todos desabitados e protegidos pelo Plano Director Municipal do Porto Santo, além de estarem de algum modo salvaguardados pela inscrição na Rede Natura 2000 e no Parque Natural da Madeira. Tivesse igualmente o continente umas tantas ilhas onde guardar em segurança amostras de toda a sua flora...

1 comentário :

bea disse...

Há paisagens extraordinárias. O que faz uma igreja perdida entre serranias não o sabemos. Mas que é linda e sozinha, é.