Maias da Madeira
Este é um mês venturoso para as giestas, piornos e tojos. Com folhagem nova, alindam os taludes das estradas com racimos de flores de um amarelo sedoso. No campo, de espinhos afiados (os que os têm) para evitar o gado predador, rescendem a frutos verdes. E por todo o lado, mas em murmúrio, a tradição atribui-lhes o poder de esconjurar o mal. Noutros tempos, os ramos unidos eram também ágeis vassouras ou boa lenha para o fogão, e havia ainda espécies usadas no fabrico de tinta. Algumas, muito melíferas, constituem no início das Primavera fonte importante de alimento para as abelhas que, agradecidas, nem notam que as flores se abrem como se explodissem, soltando uma chuva de pólen que aterra no dorso dos polinizadores. Um truque que talvez justifique o sucesso destas fabáceas, de que a Península Ibérica e a região mediterrânica abrigam dezenas de espécies.
A giesta-da-Madeira (Genista tenera, a que a Flora de JT Press e MJ Short chama giesta de piorno) é um arbusto endémico da ilha da Madeira, ocorrendo em lugares soalheiros e secos de ravinas perto do mar e penhascos de montanha. Perene e coberto por um indumento acetinado, não cresce além dos 2,5 metros mas exibe flores grandes entre Março e Julho. Os frutos são vagens espalmadas, com um gancho na ponta e contendo muitas sementes acastanhadas.
A segunda leguminosa que vos mostramos hoje é também endémica da Madeira (e da Deserta Grande) — e, tal como a primeira, é conhecida na ilha pelo nome popular de piorno. Já se chamou Genista maderensis (Webb & Berthel) Lowe, assim como Cytisus maderensis (Webb & Berthel.) Masf., e com razão. De facto, as suas flores têm o cálice como os do género Genista, mas a semente é mais parecida com as do género Cytisus. Por isso, houve quem propusesse que deveria pertencer, com outras espécies das Canárias, a um género próprio, Teline.
Esta maia da Madeira (Teline maderensis) é um arbusto perene que pode chegar aos 6 metros de altura, de ramos penugentos e folhas trifoliadas, com folíolos mucronados de cor verde acinzentada. Prefere a laurissilva, mas também se encontra em escarpas junto ao mar, especialmante na Fajã da Ovelha e em São Vicente. As versões marítima e de montanha diferem sobretudo na cor do indumento, de prateado a castanho, e no tamanho do ápice aguçado dos folíolos. Pormenores que levam alguns taxonomistas a distinguir duas variedades, Teline maderensis var. maderensis e Teline maderensis var. paivae.
6 comentários :
Como consegue esses fundos tão negros?
É um mês venturoso para as giestas. Mas também para nós que as vemos a amarelar na beira dos caminhos por todo o Portugal.
Caro José Amarante:
Esses fundos negros são o resultado de fotografar com flash um objecto muito próximo num meio sombrio, usando uma velocidade de obturação elevada. Não é um efeito que eu procure, pois em geral não gosto de fotografia com flash. Contudo, em condições de muito fraca luminosidade (como é a laurissilva da Madeira), é inevitável usar essa luz artificial para obter fotos com alguma nitidez.
Caro Paulo Araújo,
Se bem entendi, quando encontramos esta espécie nas falésias costeiras, devemos supor que é então a Teline paivae? A Teline maderensis, na floresta, é um pequeno arbusto; nos rochedos sobranceiros ao mar poderá tomar outra morfologia - por exemplo, ocorrer como planta rasteira?
Cara Teresa Freitas:
Sim, é essa a ideia, mas ao que parece a T. paivae só ocorre no noroeste da Madeira. No Flora-On Madeira há fotos da T. maderensis e da T. paivae, mas confesso que não vejo qualquer diferença entre as duas (ou, a existirem diferenças, as fotos não as mostram). Dá pelo menos para ver que a T. paivae não é mais pequena que a T. maderensis, mas é plausível que num habitat muito exposto adopte uma forma rasteira.
Caro Paulo Araújo,
Grata pela sua resposta.
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