11/07/2018

Altas campainhas


Campanula patula L.


Campânula é um nome de origem latina para um sino (campa) pequeno, a que alude a designação das herbáceas do género Campanula, tendo elas flores com pétalas mais ou menos reviradas e unidas pela base em tubo, o que dá à corola a forma de uma... campânula. As flores da C. herminii, endemismo ibérico de que por cá só há registos na serra da Estrela, são talvez a versão campaniforme mais perfeita. O nome vernáculo destas plantas, de flores roxas, cor-de-rosa ou brancas, adopta para algumas espécies o diminutivo campa + inha, ou sininho, ainda que tal denominação também se use, sob risco de confusão, para outros géneros. Na obra De historia stirpium commentarii insignes (1542), o botânico alemão Leonhart Fuchs terá registado oficialmente, talvez pela primeira vez, o termo campanula para designar precisamente uma planta (que Fuchs desenha com muito rigor, algo inusitado para a época) das que Lineu, em 1753, viria a incluir no género a que chamou Campanula.

Mas por que razão a forma destas flores se designa campânula? O dicionário Houaiss não arrisca mais do que uma menção à palavra latina campaña, explicando que era usada nos anos 560-600 para designar uma balança romana; algum tempo depois este vocábulo já soava a campanula, e ainda no século VI passou a designar também um sino (com ou sem badalo). A utilização em botânica, segundo Houaiss, data do século VIII. Voltemos, porém, à Flora Ibérica, que oferece uma explicação mais detalhada: um vaso Campana seria um tipo de recipiente em forma de cone invertido e oco, feito em bronze de grande qualidade na região (italiana, supomos) de Campania.

Curiosamente, o termo sino (do latim signum), referindo-se aos instrumentos em geral feitos em bronze que davam o sinal da hora de oração, de escalas de serviço a bordo de navios, de fecho de tabernas e de recolha a casa, apropriou-se no século passado do papel atribuído à palavra campânula para designar uma certa forma. Referimo-nos à moda das calças boca-de-sino, ponto alto do vestuário dos anos 70 e ícone do estilo «hippie». Deveriam afinal ter-se chamado calças boca-de-campânula.

A campânula hoje na montra é uma versão alta da C. lusitanica, de flores tão patentes e vistosas que Lineu lhe chamou patula.

1 comentário :

bea disse...

Que lindas estas pequenas campânulas. É a cor, é a forma, é a harmonia do conjunto.
A gente revive a contemplar tão primorosa obra. Obrigada pela mostra.