Medronheiro canarino
A maioria das plantas da nossa flora inicia agora um merecido descanso, no que são acompanhadas por várias espécies da fauna. Muitas árvores ficam carecas de folhas, com o tronco envelhecido de musgos e um ar desolado, mas sabemos que adormecem para rejuvenescer. Há, porém, excepções. A floração do medronheiro (Arbutus unedo), arbusto de folhagem perene, está agora a começar: as flores branco-rosadas e perfumadas, agrupadas em cachos, dividem o espaço na copa com frutos da época anterior, corados de frio mas ajudando a atrair os poucos polinizadores que ainda por aí andam nesta época do ano. Os medronhos, com textura e cor de morangos maduros mas quase sem sabor, ficam bem em compotas, bolos, rebuçados e aguardente. E esse uso tem beneficiado a planta, por interessar a fruticultores e destilarias a expansão da sua área de distribuição, que outrora se restringiu à região mediterrânica e Europa ocidental.
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![](https://i.postimg.cc/GpW8wSkV/Arbutus-canariensis-05.jpg)
Uma vez que uma parte significativa da flora das Canárias descende da flora mediterrânica, não foi surpresa descobrir que há uma espécie de medronheiro endémica das ilhas dos grupos central e oriental deste arquipélago (Tenerife, La Gomera, Grã-Canária, El Hierro e La Palma). Tal como o parente continental, o Arbutus canariensis tem um tronco avermelhado, que pode atingir os 7 metros de altura e se descasca com a idade. As folhas são maiores e mais escuras do que as do medronheiro continental, mas têm também aspecto coriáceo e margens serradas. As flores exibem um leve tom cor-de-rosa e pedicelos com inúmeros pêlos glândulares, detalhe que ajuda a distinguir a espécie canariense do A. unedo.
O A. canariensis está ameaçado pela perda de habitat, sobretudo nas ilhas em que as reservas de água estão mais perto do fim e os fogos de Verão se têm intensificado — regimes extremos de seca e calor a que o medronheiro canariense não parece adaptar-se. Esta espécie aprecia taludes da floresta laurissilva com bastante humidade mas solo enxuto, e onde a concorrência com outros arbustos e árvores é menor. Os registos mais recentes indicam que as populações silvestres em La Palma e La Gomera estão perto da extinção. As fotos são de exemplares do barranco de Valsendero na Grã-Canaria.
![](https://i.postimg.cc/brNqKQF4/Valsendero.jpg)
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