08/11/2020

Árvore dos fusos

Quando falamos de bosques, imaginamo-los umbrosos e acolhedores no Verão, abertos e húmidos no Inverno, abrigando carvalhos, azinheiras, sobreiros, padreiros, zelhas, pilriteiros, medronheiros, cerejeiras e uma profusão de arbustos que se regalam com os solos frescos e férteis destes locais. Com sorte, há ainda regatos ou penas de água que alimentam avelaneiras, amieiros, salgueiros, freixos e herbáceas excepcionais, além de taludes de rochas raras e fetos ainda mais invulgares. São habitats fáceis de destruir, porém, e restam poucos no nosso país. No nordeste transmontano sobram alguns dos melhores carvalhais do país, e é lá que mora a única população portuguesa conhecida de Euonymus europaeus.

Parque Natural Collados del Asón, Cantábria
Euonymus europaeus L.


Esta é uma planta de ampla distribuição na Europa e na Ásia, frequente nas montanhas do norte da Península Ibérica. É resistente ao frio e ao calor intensos, mas não parece apreciar o clima mais ameno do oeste da Península. Foi na Cantábria que vimos inúmeros exemplares desta árvore de copa magnífica, a bordejar margens de rios caudalosos, em solo calcário e bem drenado. As flores têm pedicelo longo, mas são minúsculas e branco-esverdeadas; o seu fraco efeito decorativo é compensado pelos frutos muito vistosos, da cor do coral, de fazer inveja a qualquer cerejeira.

Os vários nomes por que é conhecida, aludindo precisamente aos frutos (barrete-de-padre, bonetero), indicam que já foi mais abundante. Muitos recordam que a madeira, densa, homogénea, perfumada e de cor amarelo-claro, foi outrora a das rocas e fusos (até das histórias de fadas), e dos arcos de violino. Mas em Portugal a fuseira está ameaçada, sobretudo porque os poucos indivíduos remanescentes podem ser vítimas do corte indiscriminado de carvalhais ou do desbaste da vegetação de sebes. Consta da Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental com o estatuto de vulnerável, o que não é boa notícia.

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