Bunho triangular
Em 2020, nos meses agora longínquos em que gozámos de uma breve liberdade condicional, visitámos duas vezes o rio Minho. Da primeira vez, ainda em Maio, não vimos caiaques a deslizar nas águas e só nos cruzámos com duas pessoas. Do lado de lá havia quem nos acenasse numa espécie de desespero por não poder chegar mais perto. Quando voltámos, em meados de Julho, já portugueses e galegos se misturavam na ânsia de esquecer os meses em que foram impedidos de atravessar o rio. Caminhar junto ao rio, ou testar a medo a temperatura da água com os pés descalços, dificilmente poderiam ser, dessa vez, experiências solitárias. Ainda assim, são muitos os quilómetros de rio entre Valença, Monção e Melgaço, e pouca gente se dá ao incómodo de fazer centenas de metros a pé para chegar aos pontos mais esconsos. E é nesses lugares de relativo sossego que se refugiam as raridades botânicas.
A raridade que hoje mostramos dá pelo nome de Schoenoplectus triqueter; chamamos-lhe bunho-triangular por causa do caule esquinado com três faces bem marcadas. Trata-se de uma ciperácea robusta, com hastes de mais de um metro de altura, que aprecia substratos lodosos em remansos de rios ou estuários, e que, em Portugal, tendo desaparecido do litoral centro, apenas se encontra algures no Guadiana e, em muito maior número, no troço do rio Minho entre Caminha e Monção. Só há poucos anos se soube da sua presença no extremo noroeste de Portugal; mas, tirando essa boa novidade, a perda ou degradação do habitat da planta têm sido generalizados, tanto assim que ela foi incluída na Lista Vermelha da Flora de Portugal com o estatuto de vulnerável. Da mesma lista constam três outras plantas ameaçadas que também têm no rio Minho as suas principais (ou únicas) populações nacionais: a cravina-das-pesqueiras. o golfão-pequeno e a espiga-de-água.
A vida em Portugal não está fácil para os bunhos: duas outras espécies de Schoenoplectus, S. erectus e S. litoralis, figuram em destaque na Lista Vermelha. Ambas estão em perigo crítico de extinção, e é provável que a primeira, com última morada conhecida no baixo Mondego, já não exista em território nacional. Dentro do género, o S. lacustris, que se distingue por ter caules mais altos e de secção perfeitamente circular, é o único que tem dado mostras de pujança, com muitos núcleos populacionais tanto no litoral como no interior do país.
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