13/10/2022

Urtiga arbórea

Gesnouinia arborea (L. f.) Gaudich.


Romper de perna ao léu por um prado de urtigas é um modo rápido e moderamente doloroso de aprender que a natureza nem sempre é amiga, e que não nos fica mal tomar certas precauções elementares antes de nos defrontarmos com ela. Imaginem agora que as urtigas cresciam e se transmudavam em árvores, que essas árvores se multiplicavam para formar uma floresta, e que nos encontrávmos no interior dessa floresta sem saber como lá tínhamos ido parar nem como de lá sair. A primeira condição para esse pesadelo se materializar deu-se nas Canárias: há mesmo uma urtiga que se fez árvore. Sucede que no processo de agigantamento ela perdeu os pêlos que provocam irritação da pele (justamente chamados urticantes), de modo que lhe podemos tocar o tronco sem risco de comichão dolorosa. Além do mais, ela não é assim tão abundante nessas ilhas que consiga formar florestas. Na laurissilva de Anaga, em Tenerife, a Gesnouinia arborea (é esse o nome científico da urtiga gigante) é apenas uma componente esporádica do coberto vegetal dominado por loureiros e urzes. Assim, quem quiser experimentar uma reacção alérgica digna de nota por contacto cutâneo com plantas lenhosas agressivas deve preferir as florestas da América do Norte (onde proliferam o poison ivy e várias outras trepadeiras alergénicas) à comparativamente mansa laussilva das Canárias.

Baptizada originalmente como Urtica arborea por Lineu Filho em 1787, esta inofensiva pequena árvore foi mudada em 1830, pelo francês Charles Gaudichaud-Beaupré (1789-1854), para o género mono-específico Gesnouinia. Pese embora o seu tom rosado ou mesmo avermelhado, a arquitectura da inflorescência denuncia claramente o parentesco com as urtigas, e por isso o nome que se lhe dá nas Canárias é ortigón de los montes; mas, talvez para disfarçar a conexão pouco prestigiante, há quem prefira chamar-lhe estrelladera. Não ultrapassando os 5 metros de altura, e ficando-se muitas vezes pelo porte arbustivo, a Gesnouinia arborea é endémica das Canárias e só não está presente em Lanzarote e Fuerteventura, as duas ilhas mais áridas do arquipélago.

1 comentário :

bettips disse...

Pegando no post anterior, tinha saudades das vossas ervinhas... E dos montes e vales, taludes, bordas de água, pedrarias e terrenos planos ou inclinados onde as relevam. As urtigas rasteiras que eu adivinhava sem saber picavam-me. Estas são faustosas! Abçs