Malmequer das Baleares
Estima-se que Maiorca, a maior ilha do arquipélago das Baleares, tenha uns 150 milhões de anos. Isso é muito, se comparamos, por exemplo, com Santa Maria, a ilha do arquipélago dos Açores que primeiro emergiu e que tem cerca de 8,5 milhões de anos, ou com a ilha do Pico, à vista há não mais de meio milhão de anos. Sendo ilha e assim longeva, Maiorca é um local promissor quanto à biodiversidade, em particular no que se refere à flora — e foi o que resolvemos confirmar na última semana do ano passado.
Maiorca é uma ilha calcária, com habitats que parecem idênticos aos da serra da Arrábida mas sob um clima mediterrânico seco. A cordilheira de montanhas da costa norte (a serra de Tramuntana), que ocupa cerca de um terço da ilha, é mais fresca e húmida, e ali se refugiam bosques notáveis de vegetação mediterrânica típica (azinheiras, alfarrobas, oliveiras, lentiscos, azevinhos, pinheiros, amendoeiras, lavanda, alecrim,...) e a maioria dos endemismos botânicos das ilhas Baleares.
E há, claro, as inúmeras praias isoladas de areia dourada e água azul-turquesa, falésias em cujas grutas vivem pássaros invulgares, e extensos penhascos costeiros, onde foram instalados, para conforto geral e benefício da leitura, uns longos bancos de madeira virados para o mar. Não nos demorámos sentados, porém, porque é nas fissuras destas rochas costeiras que vale a pena gastar o tempo e o olhar. Ali se encontram plantas rasteiras que não ocorrem na Península Ibérica, apesar de Maiorca, antes de ser ilha, ter estado encostada à que é hoje a costa oriental de Espanha. Entre elas, este malmequer endémico das ilhas de Maiorca e Menorca, que floresce no Inverno e fotografámos em dois locais no nordeste da ilha, a Punta de Manresa e o Cap Formentor.
A margarideta de la mar, como lhe chamam em catalão, é uma herbácea anual de pequeno porte, muito diferente das ervas-loiras, as espécies do género Senecio que conhecemos por cá. Em contraste com os usuais capítulos amarelos, no S. rodriguezii as flores liguladas (no bordo dos capítulos, em geral femininas) são palidamente rosadas, enquanto os flósculos centrais (hermafroditas) apresentam corola tubular lilás com cinco lóbulos (veja-se a 4ª foto). Depois do espanto e muitos ohs por flores tão formosas, é inevitável reparar como são bizarras as folhas basais: suculentas e dentadas, de face inferior por vezes púrpura e face superior com manchas brancas e umas verrugas salientes, que terão sugerido a Lineu filho, em 1762, o nome Senecio varicosus para estas plantas. E é precisamente esse o nome que a Comissão Internacional de Nomenclatura Botânica requer que seja utilizado para esta espécie, por ter precedência relativamente a S. rodriguezii (de 1874), apesar de este ser igualmente aceite e de ter sido, como asseguram J. Calvo e C. Aedo neste artigo, o mais utilizado na literatura botânica.
2 comentários :
Que beleza! Passava por aqui à procura de notícias do Equinócio... Encontro a paisagem e os chãos que nos mostram, as pequenas maravilhas naturais e o "ar", o ar que se sente e respira. Numa ilha que é formosa, saindo das multidões alinhadas ao alto dos prédios. Não conheço, já tive muita vontade de ir há anos, e sabeis que destinos "com gente" têm, ou tinham, mais possibilidades de alojamento em conta. Ficam-me as notícias!
Abçs
Grande blog - sempre em grande forma, com belíssimas plantas!!
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