Brancura das neves
O branco mais puro é o da neve, e é o Inverno a estação que melhor combina com a alta montanha. Sorte têm os picos que, de tão elevados, só conhecem a brancura imperecível. Mas a serra Nevada, esse inchaço descomunal no sul da Península, tem aos pés o mar Mediterrâneo; e, apesar dos seus quase 3500 metros de altitude máxima, o manto branco que lhe dá nome não resiste às temperaturas estivais. Os cumes rochosos ficam nus, o verde molhado dos prados acolhe as águas do degelo, por todo o lado assomam plantas que despertam da letargia hibernal. Algumas são brancas, como se a neve, antes de se ausentar, as tivesse incumbido da função branqueadora. É o caso da estrella de las nieves, uma tanchagem endémica da serra Nevada que é característica de solos pedregosos e húmidos acima dos 2300 metros de altitude. Apesar de ter uma floração discreta (como é regra no género a que pertence), as suas rosetas em formato de estrela, densamente revestidas por lanugem branca, têm um efeito ornamental inegável, sobretudo quando se juntam em grupos numerosos. Por saber que a união faz a força (ou, neste caso, a formosura), a estrela-das-neves não se faz rogada em salpicar profusamente os prados e os cumes da serra Nevada. É de inteira justiça que seja reconhecida como o mais genuíno símbolo botânico deste maciço, cumprindo papel análogo ao do edelweiss nos Pirenéus e nos Alpes.
Plantago nivalis é o nome científico da planta nevadense, e é de assinalar que o mesmo epíteto reaparece no bilhete de identidade do edelweiss, cujo nome erudito é Leontopodium nivale. Trata-se apenas de uma coincidência, pois as duas plantas pertencem a famílias botânicas muito díspares, e só têm em comum a cor esbranquiçada e a preferência por altitudes elevadas. Dentro do género Plantago, a estrella de las nieves não destoa do figurino habitual: folhas em roseta achatada, desprovida de caule, do centro da qual emergem várias hastes florais de 2 a 6 cm de altura, cada uma delas rematada por uma única espiga quase esférica, com cerca de 1 cm de diâmetro. As flores hermafroditas, compactamente dispostas, têm pétalas e sépalas pouco vistosas; no auge da floração (que, no caso do P. nivalis, decorre entre Julho e Agosto), é o amarelo das anteras que sobressai do conjunto (veja as fotos nesta página).
1 comentário :
Creio nunca ter visto um plantago tão piloso!!
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