Couve do inferno
Reparou nas folhas da planta das fotos? Parecem folhas de couve-galega, embora de margens menos onduladas. As flores, num tom mais ou menos intenso de lilás, têm o formato usual na família Brassicaceae, mas aparecem no topo de uma haste alta que, abanando, se nota muito bem mesmo ao longe (em taludes de estradas, por quem vai a circular de carro, digamos). Esta espécie de Moricandia é perene e um endemismo espanhol, ocorrendo em locais áridos ou semi-áridos do centro e sul de Espanha. Se no inferno servirem sopa, será decerto caldo-verde de folhas de Moricandia.
O género Moricandia tem recebido uma atenção redobrada dos botânicos pela capacidade invulgar de algumas das suas espécies de se adaptarem a habitats em condições extremas. Estudos da Moricandia arvensis, que é anual, revelaram que as folhas destas plantas são capazes de realizar a fotossíntese sem suar de mais, sobrevivendo sob calor tórrido. Com uma floração prolongada e uma coloração vistosa das pétalas (o que tem um custo energético elevado para as plantas), a Moricandia arvensis possui um mecanismo genético de poupança que ajusta a cor das flores às condições atmosféricas do habitat e aos polinizadores mais eficientes em cada estação do ano. Na Primavera, as flores são grandes e de tons intensos, reflectindo os raios ultravioleta, o que atrai bastantes abelhas. No Verão, seco e muito quente, as flores são mais pequenas, de formato mais arredondado e com pétalas esbranquiçadas que absorvem os tais raios e, por isso, conseguem atrair outros polinizadores. É inevitável pensar quantas arrelias e queimaduras de pele nos pouparia um tal botão de ajuste de cor, mudando-nos de brancos para negros, e vice-versa, anualmente.
O nome do género foi proposto em homenagem ao naturalista suíço, e comerciante de relógios, Moise Moricand (1780-1854).
1 comentário :
Uma "couve" granatense maravilhosa!!
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