Genciana fina
Hoje mostramo-vos uma herbácea anual, com não mais do que um palmo de altura, que é quase só flor. Frequente nas regiões mais frias do hemisfério norte, ocorre na serra Nevada em prados de montanha ou rochedos húmidos acima dos 2000 metros de altityde. Da roseta de folhas basais, diminutas mas pecioladas, nascem talos erectos no topo de cada um dos quais surge, entre Julho e Agosto, uma só flor. E o que se nota desde logo é quão longe ficam as flores da base de folhas, como se quisessem evitar a humidade do solo depois do degelo, e esticassem o pescoço para não passarem despercebidas.
Comastoma tenellum (Rottb.) Toyok.
E, abrindo bem os olhos porque há que focar algo muito pequenino rodeado por vegetação rasteira densa, o que vemos? Flores de construção simples, tubulares e muito bem agasalhadas por um casaco de sépalas longas e resistentes. O cálice da flor está recortado no topo em 4 lóbulos azulados, quase roxos, que fazem lembrar as gencianas mas são desiguais (2 deles ligeiramente maiores). E, na base dos lóbulos, a tapar a garganta do cálice, uma cúpula de fímbrias brancas, abaixo da qual se situam protegidos os estames e o estigma da flor. É como um tapete à porta de casa, onde os polinizadores têm de limpar bem as patinhas antes de entrar para aceder aos 8 nectários disponíveis. É a essa crina que o nome do género alude, e que revemos em espécies alpinas ou pirenaicas que habitam habitats turfosos. O epíteto tenella indica que as plantas desta espécie são de pequeno porte.
Talvez noutras eras, quando a serra da Estrela tinha neve todo o ano e em abundância, esta planta também ocorresse por cá. Agora, a sua distribuição ibérica reduz-se aos Pirenéus e à serra Nevada. Ocorre noutras paragens frias da Europa, América do Norte, Ásia e Marrocos.
1 comentário :
Como é que descobrem tanta beleza num espaço que eu pisaria sem dela me aperceber, e ainda nos explicam de forma simples e clara tudo o que me escapa?
Enviar um comentário