O veneno não mora aqui
As umbelíferas são plantas fáceis de reconhecer pelas umbelas floridas, que lembram guarda-chuvas, e pelas folhas miudamente recortadas, de formato mais ou menos triangular. Representantes típicos da família, muitos usados em culinária, são a salsa, a cenoura e o funcho. Para que não se pense que todas estas plantas existem para nos gratificar o apetite, cumpre deixar o aviso de que muitas delas (e até algumas que se parecem superficialmente com a cenoura, como o embude e a cicuta) são mortalmente venenosas, pelo que a colheita de umbelíferas silvestres para fins culinários é totalmente desaconselhada.
Hoje falamos de duas umbelíferas que destoam vincadamente da família a que pertencem. Uma delas, Bupleurum fruticosum, recebeu em castelhano o nome de matabueyes, sugerindo que a sua ingestão é perigosa para o gado bovino. Ora essa acusação é de todo infundada, pois as plantas do género Bupleurum nada têm de tóxico e de algumas delas até se confeccionam medicamentos — que, como sucede com todos os fármacos, devem ser usados na dose indicada e tomando nota das contra-indicações. Contudo, não são conhecidos casos em que o consumo directo da planta (não das essências dela extraídas) provoque efeitos graves.
Não é na forma e disposição das flores, geralmente amarelas, que os bupleuros divergem das restantes umbelíferas. As folhas é que são novidade: em vez de divididas, são simples, lanceoladas e de margens inteiras; quase sempre apresentam uma venação longitudinal bem visível, mas por vezes, como no caso do B. fruticosum, a venação é reticulada. O porte destas plantas é muito variável: tanto o B. fruticosum (em cima) como o B. spinosum (em baixo) são arbustos, o primeiro de altura respeitável (pode superar os dois metros) e o segundo rasteiro (não excede os 40 cm), mas a maioria das espécies do populoso género Bupleurum — que abrange umas 150 espécies, todas menos uma no hemisfério norte — são herbáceas anuais ou perenes.
[= Bupleurum fruticescens subsp. spinosum (Gouan) O. Bolòs & Vigo]
Entre os bupleuros há endemismos de distribuição restrita, como este português que há mais de vinte anos aguarda reconhecimento taxonómico. Em contraste, o Bupleurum fruticosum tem uma distribuição ampla dos dois lados da bacia mediterrânica, de Portugal até à Grécia, e de Marrocos até à Tunísia. Apesar de por duas ocasiões o termos visto no Algarve, onde é bastante comum, só em Granada o pudemos observar em flor. Menos viajado do que o seu congénere, o B. spinosum, que também fotografámos em Granada, consegue ainda assim fazer a ponte entre dois continentes, ocorrendo no sul de Espanha e no norte de África. É uma planta arbustiva que com a idade ganha o aspecto de uma almofada espinhosa, perfeitamente adaptada às condições áridas do seu habitat. Os espinhos, por sinal bem rígidos e aguçados, são na verdade as hastes secas das umbelas após a frutificação.
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