06/01/2006

"Deitaram hoje abaixo a maior árvore do meu bairro!"

«... Não foi para passar uma estrada nova, nem para um novo edifício, nem porque estragava os passeios ou a estrada. Foi porque o projecto de requalificação não a pretendia ali. E foi mesmo abaixo. Estou a escrever-vos porque me parece que são das poucas pessoas que percebem totalmente como me sinto neste momento, e percebo também melhor o que têm sentido em relação aos Aliados e a outras situações de "requalificação". Envio fotos da infortunada árvore. Cumprimentos! Alexandre Leite (Fafe)»


Para este nosso amigo das árvores o ano não terminou bem e começou mesmo mal. E é com esta triste notícia que se inicia também no blogue a temível estação dos abates e das podas indiscriminadas das árvores. Não é suficiente estarmos alerta: eles têm a serra e a tesoura nas mãos e actuam sem avisar, impunemente, armados de uma ignorância e uma insensibilidade temíveis. Ainda hoje vi um chorão (Salix babylonia) barbaramente podado e há uma semana passei pela bela magnólia que no ano passado fora a primeira a florir nas redondezas e que agora vegeta com os seus "braços" decepados e sem flores no jardim do infantário.

Perguntamos a Alexandre Leite se alguém tinha avisado que iriam deitar abaixo o choupo. Eis a resposta: «O projecto de "requalificação" para o bairro incluiu alterações no sistema de esgotos e já que iam abrir a estrada, fizeram também uns passeios novos e um diferente ordenamento do estacionamento. Já agora, também fizeram um parque infantil no lugar de um outro que estava há muitos anos abandonado. Que eu saiba, a única informação que os moradores do bairro tiveram foi um cartaz que colocaram no início das obras. Esse cartaz, para além da indicação dos prazos e preço da obra, tinha algumas imagens feitas por computador de como iria ficar o "novo bairro". Na altura, reparei que no local onde estava este tal choupo que foi agora deitado abaixo, ele não estava representado. Via-se uma árvore de porte mais pequeno e mais centrada no espaço triangular onde ele se encontrava. Mas fiquei na dúvida se iam tirar de lá a árvore ou não. Podia ser simplesmente porque quem tivesse feito as imagens não tivesse uma imagem computorizada de uma árvore maior. Por essa altura mandei um email para a Câmara a perguntar o que estava previsto para aquele espaço. Se iam ou não deitar aquela árvore abaixo. Ninguém respondeu. Mandei depois uma carta. Podia ser que não tivessem recebido o mail... Ninguém respondeu. Uns tempos depois telefonei a perguntar se tinham recebido a minha carta e se iriam responder. Disseram que tinham recebido e que iam já tratar do assunto. Até hoje, mais nada.

Imagino que para muita gente tenha sido uma surpresa, o derrube da árvore. Da mesma forma que foram surpresa todos os outros pormenores das obras. Mas também, para alguns até terá sido uma boa surpresa. Disseram-me que um vizinho chegou a fazer um abaixo assinado para que se deitasse a árvore abaixo, já que iam mexer na zona. Parece que se sentia incomodado com o "algodão" que os choupos libertam. Mas também conversei com alguns vizinhos, antes de ela ser derrubada, que quando eu lhes dizia, que se calhar, iam deitar a árvore abaixo, consideravam uma asneira tirá-la dali.»

Publicado também no Dias sem árvores

5 comentários :

Anónimo disse...

Está tudo louco! Será por verem tantas telenovelas que perderam a noção das realidades? Mas se até há 30 anos na Suiça p.ex. era preciso quase um referendo dos moradores para abater uma árvore ou destruir uma sebe de jardim!! Como vamos atrasados ... Caro amigo, como choramos as nossas queridas árvores. Possamos ao menos ficar indignados, juntos!
EP

Anónimo disse...

Aos autores do blog e ao comentador EP, sugiro uma visita ao blog infohabitar do Grupo Habitar e atrevo-me até a pedir-vos comentários para um tema que necessita de muito debate: o da participação dos cidadãos no processo de planeamento urbano.
M D Ramos e coautores do diascomarvores, parabéns pelo vosso esforço informando, divulgando e permitindo o debate neste excelente blog.
MJEloy

Rosa disse...

Caros amigos,
Então não se está mesmo a ver que uma árvore daquelas é uma ameaça a todas as mentes tacanhas e insensíveis.
Mas estou confiante que os nossos iluminados autarcas vão lançar brevemente algum sistema revolucionário que nos permitirá viver nas cidades sem árvores (ou com árvores muito pequeninas)
rosa

Anónimo disse...

Lamentável... Como muitas coisas que acontecem na nossa terra!

Maria Celeste Ramos disse...

Ao ter sido abatida essa grande e bela árvore para a tal "requalificação" bem me parece que é a total DESQUALIFICAÇÂO não apenas de qualquer lugar mas da beleza e função da árvore e de quem revela esse acto de coragem de "matar a vida e a beleza".Também eu tinha a "minha" bela figueira tão velhinha (pelo menos 70 anos) tão abundante todos os anos e tão bela com como sem folhas, de ramadas gigantescas e torcidas pelo tempo e pela grandeza da idade, quase a rainha do miolo do quarteirão, que foi depósito de materiais sobrantes de restauro de edifício com o programa RECRIA - mas não recriou nada.
Os materias de construção incuindo tábuas e latas de tinta,sobrantes do restauro, deveriam ter sido levantados pelo proprietário do estaleiro ou então pelos serviços camarários com quem constactei, e que nada fizeram, se é que não é já costume constar no Caderno de encargos, levantar o que já não pertence à obra ou se, consta, não se lhe dá mais cumprimento.
Hoje a "minha" figueira continua a erguer-se tanto quanto pode, mas mutilada. Sim, Alexandre Leite, eu também percebo, e até já plantei muitas árvores h+a muitos anos na cidade onde vivo, ví-as crescer, mas não sei se ainda lá estarão