14/09/2009

Chupa-chupas ao desbarato



Hydrocotyle bonariensis Lam. - Perafita, Matosinhos

Os chupa-chupas não gozam, entre a criançada, da mesma popularidade de outrora, e mesmo os adultos parecem já tê-los esquecido. Só assim se explica que, na Flora Digital de Portugal, se tenha dado a esta planta nome tão baço e inexpressivo como chapéus. Pois não é claro pela amostra incluída que estas folhas verdes muito empertigadas nas suas hastes, de uma redondez perfeita apesar das margens dentadas, são na verdade chupa-chupas, mesmo que ninguém lhes queira pôr a língua? (Pode até ser perigoso fazê-lo; deixemos os franceses experimentar primeiro.)

Quem a vê despontar do areal pode julgar que cada planta lança uma única folha, e que os caules encimados por umbelas floridas pertencem a alguma outra planta. Na realidade, a Hydrocotyle bonariensis é dotada de um caule comprido, rastejante, que se subdivide várias vezes e que, a intervalos irregulares, vai lançando hastes verticais, ora com folhas ora com flores. Como o caule está soterrado na areia, só as folhas e inflorescências ficam visíveis.

Das quase cem espécies de Hydrocotyle, apenas a H. vulgaris, que prefere charcos ou prados húmidos, é nativa em Portugal. A H. bonariensis, que só nas areias marítimas se sente em casa, é originária da América do Sul (e, segundo a Wikipedia, também da África tropical), mas naturalizou-se na costa sul da Europa, de Portugal à Itália. Além dos habitats diferenciados, outra característica distingue as duas Hydrocotyles presentes no nosso país: as inflorescências da H. vulgaris são quase insignificantes, e ficam em geral ocultas pelas folhas.

O nome Hydrocotyle refere-se à apetência de muitas destas plantas pela água (prefixo hydro) e ao formato das folhas: segundo William T. Stearn, a palavra grega kotyle significa pequena chávena. Chávena essa que corria o risco de entornar o conteúdo, não fosse o caso de, na H. vulgaris, e ao invés do que sucede com a H. bonariensis, as folhas estarem na posição horizontal.

5 comentários :

Luz disse...

Desculpem a ignorância,e por conseguinte a pergunta, mas será que, esta "Hydrocotyle bonariensis", é aparentada com aquela planta com formato de guarda chuva que cresce nos telhados e nos muros, das casas abandonadas, da região de Sintra? Esta perece gostar de estar a seco, pois as bermas das paredes velhas são secas, e as folhas, que não têm recorte mas têm o formato de um guarda chuva ao contrário, saem de um caule(?), um rizoma(?), um tubérculo(?) que está completamente enterrado...
Luz

Paulo Araújo disse...

Essa que aparece nos muros (não só em Sintra, mas em todo o país), embora tenha folhas semelhantes, não é uma Hydrocotyle, e aliás pertence a uma família botânica diferente: trata-se da Umbilicus rupestris, de que a Maria já aqui falou.

J. Carlos disse...

Boa tarde, sabe dizer se encontro na região de Lisboa e onde exactamente? Caparica? Ericeira?...
Obrigado. J. Carlos

Paulo Araújo disse...

De acordo com o mapa nesta página, a espécie aparece pouco nessa zona (que conhecemos mal).

José disse...

Obrigado pela info.
J.Carlos