30/11/2005

Escrita da água


Foto: pva 0509 - Cordyline australis e Cyperus papyrus no Jardim Duque da Terceira, Angra do Heroísmo

No terraço superior do Jardim Duque da Terceira, em Angra do Heroísmo, há um pequeno tanque rectangular desenhado a pedra de lava. Rodeiam-no fiteiras (Cordyline australis), árvores neo-zelandezas semelhantes ao dragoeiro, e alguns arranjos de flores; e, entre a vegetação aquática, sobressai uma espécie de juncal coroado por numerosos tufos em forma de leque. Poucos nomes botânicos terão uma ressonância tão lendária como o desta planta: trata-se do papiro, nome que de imediato evoca o antigo Egipto. A planta, entretanto baptizada como Cyperus papyrus, é endémica das zonas alagadas pelo Nilo, onde atinge alturas de até cinco metros; e era justamente das suas fibras que se fabricava o material onde então se escrevia. Tem ainda a glória de figurar numa das mais importantes histórias do Antigo Testamento: apesar de nas traduções bíblicas para português se falar de canavial, foi de facto entre papiros, nas margens do Nilo, que o bebé Moisés, aconchegado num cesto, foi escondido para escapar à morte decretada pelo Faraó para toda a prole masculina das mulheres hebraicas (Livro do Êxodo, caps. 1 e 2).

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