23/12/2005

Araucaria cunninghamii


Foto: pva 0511 - Araucaria cunninghamii no Jardim Botânico da Universidade de Lisboa

Visto de Coimbra, e em particular do seu jardim botânico, o resto do mundo (e até o resto do país) deve parecer um local peculiar. Pois não é que, tirando o de Coimbra, todos os jardins botânicos do planeta franqueiam, gratuitamente ou não, os seus portões aos visitantes, levando a irresponsabilidade ao ponto de os deixarem sozinhos a deambular entre árvores, arbustos e flores? Estar em minoria, mesmo numa minoria de um contra todos, não significa estar destituído de razão; e o Tempo, esse grande desestabilizador, pode vir a inverter a relação de forças. Talvez no futuro todos os jardins, parques urbanos e reservas naturais sejam cercados por gradeamentos e de acesso proibido a estranhos - sejam, na verdade, condomínios fechados, como é há muito (avant la lettre) o Jardim Botânico de Coimbra.

Enquanto assim não for, vamos passeando por esse Portugal exterior a Coimbra onde os jardins botânicos estão abertos ao público. E um dos mais simpáticos, com entrada por apenas 1,5 euros (e, autêntica pechincha, passe anual a 7,5 euros), é justamente o da Universidade de Lisboa, à Rua da Escola Politécnica. À entrada, entre os veneráveis edifícios do Museu de História Natural, um duplo alinhamento de Washingtonia robusta prenuncia a colecção das palmeiras, uma das mais valiosas do jardim. Mas deixemo-la para mais tarde, e vamos falar da árvore da foto, o mais bonito exemplar que alguma vez vimos de Araucaria cunninghamii. A folhagem desta árvore, concentrada em tufos na ponta dos ramos, é semelhante à da Araucaria heterophylla, muito comum no nosso país; mas, em contraste com esta, de arranjo esmeradamente regular, a Araucaria cunninghamii exibe acentuada assimetria, com os ramos terminais a erguerem-se em profusa desordem. Tem a beleza descuidada que quem dispensa artifícios de enfeite.

A Araucaria cunninghamii - que, no estado natural, pode atingir os 60 metros de altura - é, como a Araucaria bidwillii, originária da costa leste australiana. (A Araucaria heterophylla, por seu turno, não é propriamente australiana, mas sim endémica da ilha de Norfolk.)

7 comentários :

Anónimo disse...

Homem, tanta ironia. Eu já fiz diversas visitas à mata do Jardim Botânico de Coimbra, bem como à "Escola Médica". Pelos vistos foi grande o privilégio, pois tive a conduzi-las o meu melhor professor de sempre: o "desalinhado" Jorge Paiva. Com ele vale a pena. É sempre útil e agradável. E chega a parecer fácil... Até me faz impressão que o jardim seja tão impenetrável... Que dirá o bom Jorge Paiva a isso?
José Batista, Braga

Paulo Araújo disse...

O Jardim Botânico de Coimbra é impenetrável para o comum dos visitantes - e foi sempre nessa qualidade que o visitei. Mas admito perfeitamente que conhecendo as pessoas certas seja muito fácil lá entrar. Não é justamente assim nos condomínios fechados?

Anónimo disse...

O "problema" com a Mata já foi explicado amíude pelos responsáveis. Informe-se ou inscreva-se para uma visita.Ou as duas coisas.

Paulo Araújo disse...

Confesso que nunca entendi bem o "problema com a mata", mas pode ter a certeza de que já me informei. Não me inscrevi para uma visita porque: (i) elas só decorrem nos dias úteis, e nessa altura estou a trabalhar; (ii) exigem um mínimo de 25 participantes e, a acreditar no "site" do jardim, a inscrição tem que ser feita em grupo. (Nas chamadas visitas de Outono à mata, já encerradas, as condições eram mais flexíveis, mas permanecia o óbice de não se realizarem ao fim-de-semana.) Finalmente, dando de barato o misterioso "problema com a mata", qual é o problema com o recanto tropical e com as outras zonas visíveis ao público que permanecem encerradas? Ou acha que para um amante de árvores e de plantas é satisfatório ver tudo ao longe?

joao capelo disse...

ola, mas a foto é do jardim botanico de lisboa e nao do jardim botanico de coimbra

Paulo Araújo disse...

Não nos traz grande novidade: que a foto é do Jardim Botânico da Universidade de Lisboa é dito claramente na legenda e no próprio texto.

Paulo disse...

Existe um exemplar desta Araucaria no jardim botânico do Porto