04/10/2007

Romaria em Setembro


Valinhas - 9 de Setembro de 2007

O segundo domingo de Setembro é o dia de todas as romarias, mas não foi por isso que voltámos a Valinhas no preciso dia em que o carvalhal estava coalhado de gente em festa. Voltámos como quem cumpre um voto, e por distracção calhou ser no dia da romaria a Nossa Senhora de Valinhas. Mas preferíamos ter reencontrado o sossego da nossa primeira visita, mais propício à contemplação destes nobres carvalhos. Como local de romaria muito antigo, este carvalhal adquire uma importância singular na vivência dos povos das redondezas, e uma tal ligação deve ser vista com carinho e apreço. Mas as agressões a que o bosque está sujeito em dias de romaria ofendem a dignidade das árvores e abastardam a festa. Para não ter que carregar as lancheiras, cada um estaciona o carro no exacto local onde vai estender a toalha, e temos assim o carvalhal convertido em híbrido caótico de parque de estacionamento com recinto de merendas. Além de feio de se ver, este comportamento degrada seriamente um património natural único: as árvores não são eternas, e não há hipótese de o carvalhal se renovar naturalmente com invasões tão desregradas como esta.

Afastámo-nos desta triste cena logo que pudemos. Não vimos a procissão e só ao longe, ou de passagem já no regresso, ouvimos a banda a tocar à mistura com o estrondo dos foguetes. Buscámos refúgio junto às quedas de Fervença, onde, como seria de esperar no fim do Verão, o rio Leça estava menos caudaloso do que quando o vimos no início da Primavera. Como o risco de afogamento era nulo, acompanhámos o curso descendente do rio por algumas centenas de metros. Era ele um fio de água escorrendo entre blocos de granito talhados quase a pique e escoltado por freixos e amieiros, esses amigos dos lugares húmidos que aqui, entre as rochas, encontraram solo bastante para medrar. Um declive mais ameaçador ditou o termo do nosso alpinismo à paisana, e daí em diante contentámo-nos em esquadrinhar a vegetação rasteira. Uma das plantas que nos captou a atenção foi a Calluna vulgaris, que encontrámos em flor: parente próxima da urze (Erica sp.), as suas flores não têm os estames compridos, protuberantes, que são característicos do género Erica. Mas é natural que detalhes como esse, difíceis de detectar a olho nu, escapem ao observador comum, e assim a C. vulgaris partilha com a Erica muitos nomes vernáculos, como torga, urze e queiroga (ou quiroga); contudo, há outros nomes que são exclusivos seus: mongoriça, queiró, leiva e carrasca (este último nos Açores). Eis pois uma planta plebeia, sem eira nem beira, que tem quase tantos apelidos como um fidalgo de velha estirpe.


Calluna vulgaris

1 comentário :

Anónimo disse...

Se os grandes carvalhos sofrem com romarias, imagine estas pequenas delicadas que nem conhecidas direito são. Por todo lugar a mesma coisa....