Grama-preta
Ophiopogon planiscapus "Nigrescens"
Ao contrário do que faz supor a designação vernácula e o formato da folhagem, esta planta do este da Ásia não é uma gramínea, nem sequer suporta o pisoteio como as nossas (demasiado bem conhecidas e gulosas por água) relva-de-estádio (Poa pratensis) ou relva-de-campo-de-golfe (Zoysia tenuifolia): é uma ex-liliácea que agora pertence à família dos dragoeiros. As folhas lineares, finas, invulgarmente pretas e as flores diminutas em espigas curtas mas de um branco-lilás pouco usual dão-lhe lugar de destaque nas bordaduras de jardins - utilização que consta de pinturas chinesas do século XVIII.
Mas há mais vantagens nesta herbácea anã. Propaga-se por divisão de touceira em qualquer época do ano. É de crescimento lento e não requer corte e aparo, poupando-nos àquelas máquinas ruidosas com que os vizinhos decidem, em boa consciência cidadã, gastar os feriados desde madrugada para que o seu relvado bem penteadinho seja um carinho antecipado aos seus convidados da noite. As raízes tuberosas são comestíveis e constam da famosa Famine Foods List de Jiuhuang Bencao; cristalizadas em açucar constituem tonificante tradicional.
O canteiro da foto está no jardim romano do Parque do Arnado, em Ponte de Lima.
5 comentários :
Esta grama é uma beleza, assim mesmo despenteada. Mais a Sul não deve resultar tão bem, penso eu. Em Lisboa os relvados parecem o restolho no Verão. Junto da Torre de Belém e no Parque Eduardo VII, são quase mais as manchas castanhas que as verdes. A julgar pelas fotos, ela gosta da frescura e de ter os pés molhados.
Pois não gosta e essa é outra vantagem desta grama: ela precisa de um torrão enriquecido, mas não o quer húmido. No canteiro da foto, ela tem pouca terra e os pés secos. O lago que se vê é componente arquitectónica do jardim romano. Este parque é um catálogo vivo de algumas tendências de jardinagem ao longo da História e os vários tipos de jardins estão separados por ramadas de vinha, de castas importantes para a produção do afamado vinho verde da região. O jardim romano é rectangular, de linhas direitas sublinhadas por colunas, e num dos topos está uma pérgula com uma glicínia fantástica, debaixo da qual não é difícil imaginar Agripina a servir carinhosamente uma taça de cicuta ao seu imperador (e tonto marido) Cláudio…
Inebriado com os aromas da glicínia, também eu tomaria cicuta por vinho com especiarias.
Esses jardins são muito bonitos, e jardins à romana têm um encanto especial. Foi a pensar na água e na frescura do impluvium que imaginei que a grama-preta apreciasse a humidade e não esta secura quase tórrida a que se assiste a Sul.
Olá Maria
Vim agradecer aqui a sua intervenção e comentar esta novidade: grama preta comestível, muito interessante isto, será que vai bem com vinho verde?
A primavera aqui está fria, a chuva chega e um pouco de frio junto, um vinho é bem vindo!
Aqui não é comum esta variedade de grama preta. Em São Paulo, a grama preta é muito usada, já foi mais; mas, a espécie utilizada é o O. japonicus que só vive bem com os pés na sombra, enquanto o O. jaburan gosta mais do sol, indiferente a muita umidade.
Um abraço e um brinde a vocês!
Lúcia: Os seus posts sobre a Dombeya ficaram muito interessantes. Foi uma agradável supresa que o JBL nos respondesse tão depressa, e com informações tão úteis.
Sendo verde, vai certamente bem com qualquer planta, mas por cá não é essa a companhia usual de um bom vinho...
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