Árvore-da-princesa
Paulownia tomentosa
A autora do mais recente projecto de recuperação do Parque de Serralves não deve gostar muito de árvores - ou então é uma republicana da cepa sanguinária dos regicidas, e abomina não só a monarquia mas todas as plantas que a ela ficaram ligadas pelos acasos da taxonomia. A única árvore-da-princesa (Paulownia tomentosa) que existia no Parque, e uma das três que conhecíamos no Porto, caiu às ordens da arquitecta, com o pretexto de não ser a companhia certa para o arvoredo autóctone que se queria valorizar. Na mesma ocasião, e por serem igualmente culpadas de exotismo, só não se derrubaram duas sequóias (Sequoia sempervirens) porque alguém refilou a tempo. Quem então refilou penitencia-se hoje por não ter também intercedido em defesa da Paulownia e das muitas azáleas que na altura se perderam.
De modo que quem no Porto quiser conhecer uma destas árvores chinesas - que são vulgares e muito apreciadas nos países de clima temperado - terá que ir ao Jardim Botânico. Antes havia lá duas, vizinhas uma da outra, mas uma terá caído com o vento, e só sobrevive a da foto; com o rumo azarado que as coisas levam, é bom que os nosso dendrófilos se apressem a visitá-la.
Embora de famílias botânicas diferentes, a Paulownia e a Catalpa têm marcadas semelhanças: as folhas descomunais (no caso da Paulownia, elas são penugentas na face inferior - daí o epíteto tomentosa - e atingem os 35 cm de comprimento por 25 de largura), a forma tubular das flores, e o facto de os frutos persistirem na árvore quando ela se despe no Inverno. A floração da Paulownia ocorre antes de as folhas abrirem: o deslumbre da mancha rosa-lilás da sua copa coloca-a a par das magnólias e logo abaixo dos jacarandás. É uma árvore de crescimento muito rápido, e a sua madeira é usada no Japão em marcenaria fina. O nome Paulownia vem de Ana Paulowna (1795-1865), princesa russa, filha do czar Paulo I.
O outro nome comum desta árvore em inglês (além de princess-tree) é foxglove-tree, o que em português daria árvore-dedaleira. A semelhança das suas flores com as da vulgar dedaleira (Digitalis purpurea) é evidente, mas a relação entre as duas plantas é mais profunda: até há poucos anos ambas integravam a família Scrophulariaceae; a Paulownia era mesmo a única árvore dessa família maioritariamente constituída por herbáceas. Como explica este artigo da Wikipedia, a família Scrophulariaceae foi desmembrada, e com isso a Digitalis e a Paulownia cortaram entre si todos os laços familiares. Hoje a Paulownia tem uma família só sua (chamada por isso monogenérica), o que mostra que a botânica também dá lições de sociologia.
5 comentários :
Tem uma floração suave e linda! Defender as autóctones não deveria significar erradicar exóticas raras, ou que fossem transplantadas em último caso; coleções e espécies raras deveriam ser valorizadas, uma pena! Tudo indica que a espécie aqui no Brasil foi trazida pelos japoneses pelas flores e também para fazer caixas de fósforos!
Vivam as exóticas de qualidade...
Onde se poderão arranjar Paulownias sem ser aqui?
Nem todas as exóticas têm carácter de invasivas. É importante saber fazer a distinção.
Passe a publicidade, não é assim tão difícil comprar Paulownias (e por isso, sendo elas tão bonitas, é verdadeiramente estranho que se vejam cá tão poucas): os viveiristas Alfredo Moreira da Silva & Filhos têm-nas à venda.
A botânica dá a melhor das lições em quase todas as disciplinas.
Pobrezinhas, as nossas Paulownias, pobres de nós.
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