01/11/2007

Árvore-da-princesa



Paulownia tomentosa

A autora do mais recente projecto de recuperação do Parque de Serralves não deve gostar muito de árvores - ou então é uma republicana da cepa sanguinária dos regicidas, e abomina não só a monarquia mas todas as plantas que a ela ficaram ligadas pelos acasos da taxonomia. A única árvore-da-princesa (Paulownia tomentosa) que existia no Parque, e uma das três que conhecíamos no Porto, caiu às ordens da arquitecta, com o pretexto de não ser a companhia certa para o arvoredo autóctone que se queria valorizar. Na mesma ocasião, e por serem igualmente culpadas de exotismo, só não se derrubaram duas sequóias (Sequoia sempervirens) porque alguém refilou a tempo. Quem então refilou penitencia-se hoje por não ter também intercedido em defesa da Paulownia e das muitas azáleas que na altura se perderam.

De modo que quem no Porto quiser conhecer uma destas árvores chinesas - que são vulgares e muito apreciadas nos países de clima temperado - terá que ir ao Jardim Botânico. Antes havia lá duas, vizinhas uma da outra, mas uma terá caído com o vento, e só sobrevive a da foto; com o rumo azarado que as coisas levam, é bom que os nosso dendrófilos se apressem a visitá-la.

Embora de famílias botânicas diferentes, a Paulownia e a Catalpa têm marcadas semelhanças: as folhas descomunais (no caso da Paulownia, elas são penugentas na face inferior - daí o epíteto tomentosa - e atingem os 35 cm de comprimento por 25 de largura), a forma tubular das flores, e o facto de os frutos persistirem na árvore quando ela se despe no Inverno. A floração da Paulownia ocorre antes de as folhas abrirem: o deslumbre da mancha rosa-lilás da sua copa coloca-a a par das magnólias e logo abaixo dos jacarandás. É uma árvore de crescimento muito rápido, e a sua madeira é usada no Japão em marcenaria fina. O nome Paulownia vem de Ana Paulowna (1795-1865), princesa russa, filha do czar Paulo I.

O outro nome comum desta árvore em inglês (além de princess-tree) é foxglove-tree, o que em português daria árvore-dedaleira. A semelhança das suas flores com as da vulgar dedaleira (Digitalis purpurea) é evidente, mas a relação entre as duas plantas é mais profunda: até há poucos anos ambas integravam a família Scrophulariaceae; a Paulownia era mesmo a única árvore dessa família maioritariamente constituída por herbáceas. Como explica este artigo da Wikipedia, a família Scrophulariaceae foi desmembrada, e com isso a Digitalis e a Paulownia cortaram entre si todos os laços familiares. Hoje a Paulownia tem uma família só sua (chamada por isso monogenérica), o que mostra que a botânica também dá lições de sociologia.

5 comentários :

Anónimo disse...

Tem uma floração suave e linda! Defender as autóctones não deveria significar erradicar exóticas raras, ou que fossem transplantadas em último caso; coleções e espécies raras deveriam ser valorizadas, uma pena! Tudo indica que a espécie aqui no Brasil foi trazida pelos japoneses pelas flores e também para fazer caixas de fósforos!

ManuelaDLRamos disse...

Vivam as exóticas de qualidade...
Onde se poderão arranjar Paulownias sem ser aqui?

VN disse...

Nem todas as exóticas têm carácter de invasivas. É importante saber fazer a distinção.

Paulo Araújo disse...

Passe a publicidade, não é assim tão difícil comprar Paulownias (e por isso, sendo elas tão bonitas, é verdadeiramente estranho que se vejam cá tão poucas): os viveiristas Alfredo Moreira da Silva & Filhos têm-nas à venda.

Rosa disse...

A botânica dá a melhor das lições em quase todas as disciplinas.
Pobrezinhas, as nossas Paulownias, pobres de nós.