08/02/2008

Erva de caule oco


Phyllostachys bambusoides

Os pilares desta abóbada do Jardim Botânico de Coimbra têm cerca de 150 anos, revestindo um hectare com a espécie chinesa de bambu gigante, Phyllostachys bambusoides, da mesma família do trigo, centeio, aveia e demais cereais. Em média, os caules têm uns 20 m de altura e 9 cm de diâmetro, tendo crescido cerca de 30 cm por dia na primeira semana de vida. Dão agora corpo às palavras de Eugénio de Andrade: «O verde dos bambus mais altos é azul ou então é o céu que pousa nos seus ramos». Neste país da relva, do eucalipto e do desperdício de água, é embaraçoso verificarmos que já fomos mais sábios a construir, e apreciar, jardins.

Nunca vimos um destes exemplares em flor - a qual, como a da relva, é discreta e reduz-se a estames e anteras, com duas brácteas a resguardar o conjunto, o bastante para a polinização pelo vento. E, em certo sentido, ainda bem. É que, sendo plantas rizomatosas, reproduzem-se vegetativamente, formando florestas de clones que, por isso, exibem uma floração gregária, em simultâneo; e depois de florir, a planta morre. Dir-se-ia que, ultrapassada a fase primitiva em que as plantas não possuíam flores, e aquela posterior em que todas elas se enfeitavam com flores garridas, vieram os tempos modernos em que as plantas têm, como certa escola de arquitectos, vergonha de as mostrar.

Um bambuzal como este exige manutenção adequada, para assegurar a humidade certa a estas ervas altas e as defender dos textos que anónimos apaixonados, ou visitantes deslumbrados, inscrevem nos seus tubos. Apesar de ser de folha perene, em climas mais frios parte da folhagem cai para proteger os pés dos bambus, renascendo na Primavera em leques exuberantes. E há usos tradicionais para as várias partes dos bambus: os rebentos são comestíveis e importante fonte de fibra (embora sejam pouco nutritivos e por isso os pandas consomem grandes quantidades deles); os tubos são amplamente usados na construção civil e em instrumentos musicais de sopro; a cobertura macia das canas é transformada em pasta de papel; e são raros os jardins chineses sem um recanto ornamentado com um bambu, junto a um muro e rochas harmoniosamente dispostas, a sugerir uma pintura.

1 comentário :

eduardo b. disse...

Eu tive oportunidade de ver os bambus do Jardim Botânico de Lisboa em flor, há muitos anos, creio que no final dos anos 80. São, de facto, pouco memoráveis. No entanto, para algumas pessoas, são-no por péssimas razões: http://news.bbc.co.uk/2/hi/south_asia/7234213.stm