Fava rica, fava pobre
Vicia faba / Vicia angustifolia / Vicia sativa
1 - Fábula sem moral que se perceba
«Já se sabe. A nossa vida são favas contadas. Tão certo como dois e dois serem quatro.» Quem assim perorava para edificação dos seus companheiros era o mais velho faveiro do quintal. Ou que como tal gostava de ser considerado, apesar de serem todos da mesma sementeira: era ele o mais alto do seu talhão, e também o que mais abundantemente florira e prometia dar mais e maiores favas.
«Isso é falar de vagem cheia. Quem te disse tal coisa? Sabes tanto ou tão pouco como nós, que nunca daqui saímos.» É um faveiro mirrado que desafia o faveiro-mor, mas este, desagradado com a interpelação, logo manda calar o atrevido. «Repito que são favas contadas. Quantas vezes já não ouviram isso à nossa dona? Ela é a mulher da fava rica, e é ela que nos vai contar as favas para saber quem merece continuar a viver no quintal.»
«E os outros, o que é que acontece aos outros?», perguntam vozes aflitas.
«Ora essa! Os outros não têm favas que cheguem, não é verdade? É claro que vão ser mandados à fava.»
2 - Favas e ervilhacas
A ervilhaca-miúda (Vicia angustifolia) e a ervilhaca-mansa (V. sativa) dão as favas pobres do título. Pequenas herbáceas trepadeiras, espontâneas na Europa, começam a florir agora que o Inverno rescende já a Primavera. Apesar de as ervilhitas semelhantes a lentilhas por elas produzidas serem comestíveis, não se lhes dá qualquer uso culinário. Em vez disso, toda a planta (em especial a V. sativa) é cultivada para forragem: cavalos e vacas disputam-lhe com avidez os tenros rebentos, incorrendo em sério risco de perturbações digestivas.
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