23/10/2012

Imortalidade em flor

Tanacetum corymbosum (L.) Sch. Bip.



Ensina William T. Stearn, no seu Dictionary of Plant Names for Gardeners, que Tanecetum provém da designação medival latina tanazita para o T. parthenium, um malmequer (ver foto em baixo) usado como medicinal desde a antiguidade. Tanazita, por sua vez, deriva do grego athanasia, que significa imortalidade. Segundo o mesmo Stearn, o tipo de imortalidade associado à planta não era, para os seus beneficiários directos, dos mais invejáveis: era a imortalidade dos cadáveres incorruptos, daqueles santinhos póstumos que a devoção popular canonizava sem pedir licença ao Papa. Acreditava-se, por a erva ser empregue para combater os vermes intestinais, que ela teria igual efeito dissuasor nos vermes necrófagos, e por isso era costume enrolá-la nos lençóis que amortalhavam cadáveres.

Nativo da Ásia menor e dos Balcãs, o T. parthenium, útil no mesmo grau para vivos e mortos, foi amplamente cultivado como medicinal ou para ornamento na Europa e na América do Norte. Mesmo tendo passado de moda, naturalizou-se em muitos países, entre os quais Portugal, e neles persiste até hoje. É muito mais fácil encontrá-lo por cá do que ao seu primo nativo T. corymbosum, cujas fotos encabeçam o texto. Este último, com uma área de distribuição que se estende pelo norte de África e por quase toda a Europa, só tangencialmente marca presença na flora portuguesa: é muito esporádico no Gerês e aparece, também em número escasso, nas campinas do interior centro, entre o Alto Alentejo e a Beira Baixa.

De silhueta esguia, atingindo 1,2 m de altura, com os capítulos florais, surgidos entre Maio e Julho, sustentados por longos pedúnculos e agrupados em corimbos perfeitos, com as folhas bipinadas evocativas dos fetos, o T. corymbosum faria óptima figura em jardins se lhe dessem oportunidade. Não menos raro e merecedor de atenção é o T. mucrolunatum, provável endemismo português de distribuição mal conhecida, muito semelhante ao T. corymbosum, porém mais peludo, menos empertigado, e com pedúnculos mais curtos.

Tanacetum parthenium (L.) Sch. Bip.

1 comentário :

Carlos M. Silva disse...

Olá
Não fiz nenhum comentário a este post por que estava esperançado em testar o que tivesse fotografado numa berma,mas infelizmente e apesar de várias vezes lá ter ido e passado não deverei ter parado; de facto, nas várias idas a Sopo/Paredes de Coura em 2012 passei por uma berma,na estrada e só aí,cheia e plena de uns ásteres, altivos,que causando-me admiração mesmo assim não me terá dado para parar;pelo menos ainda os não encontrei nas pastas dessas viagens;não sei se é esta tantas são as espécies desta família mas este post obrigar-me-á a 'testar essa berma' quando a primavera voltar a explodir.
Um desafio mais será o que terei!
Obrigado.
Carlos M. Silva