03/12/2012

Plantamar

Plantago maritima L.


Os plantagos, que pouco devem às noções convencionais de beleza, também não se distinguem pela raridade. Constituem, com umas tantas gramíneas, cardos e dentes-de-leão, aquela massa vegetal anónima que enche terrenos baldios ou que invade, oportunista, pedaços de cidade deixados ao abandono. São ervas de pisar que, quando as encontramos, nunca nos fazem deter o passo.

Mas mesmo da planta mais trivial se pode contar a história da sua relação com o homem. Várias espécies de Plantago, incluindo o muito comum P. lanceolata, tiveram uso medicinal desde a antiguidade. E o nome Plantago remete à anatomia humana, pois significa planta do pé: as folhas de algumas espécies do género, em especial do P. major, são tão largas que evocam a marca de uma pegada. Não menos interessante é o nome vernáculo tanchagem, que parece derivar de chantagem por simples metátese. Será que a planta induz de alguma forma à prática da extorsão? Mas trata-se apenas de um caso fortuito de convergência fonética, já que chantagem-enquanto-crime vem do francês chantage, e tanchagem-a-planta, embora não pareça, evoluiu do étimo latino plantaginis.

Posto isto, dentro da grande uniformidade das espécies do género (uma roseta basal de onde saem as características espigas florais), há plantagos que a nossos olhos nascem mais iguais que outros, numa discrepância que reflecte apenas a nossa compulsão em valorizar o que é escasso. Sucede que a própria medida de raridade é por vezes subjectiva, pois uma planta que é rara num país ou região pode não o ser noutras paragens. É o caso deste Plantago maritima, de ampla distribuição europeia e mediterrânica, que em Portugal só se encontra, e com alguma dificuldade, no litoral minhoto. O seu habitat são as rochas costeiras ou os sapais nos estuários de grandes rios, duas preferências exemplificadas pelas populações portuguesas da espécie. As plantas das fotos vivem numa zona lodosa da foz do Lima, em Darque; também em Viana do Castelo, mas do outro lado do rio, há Plantago maritima nas falésias salpicadas pelas ondas junto ao forte da Areosa.

O Plantago maritima distingue-se bem pelas folhas, que têm cerca de 20 cm de comprimento, são estreitas, semi-carnudas e glabras. É uma planta perene, de raiz algo lenhosa, que floresce de Abril a Setembro. A sua variabilidade tem levado a propostas de divisão em subespécies que, na opinião de Franco (vol. 2 da Nova Flora de Portugal), não são facilmente destrinçáveis. Além da subespécie maritima, a única que ocorreria no litoral minhoto, a Flora Ibérica reconhece a subespécie serpentinica, de rochas ultrabásicas no interior. Contudo, um dos caracteres diagnósticos indicados nessa obra parece falhar: nas plantas por nós observadas, as folhas, em vez de terem as margens lisas, apresentavam por vezes alguns dentes (ver fotos 2 e 3), fenómeno que só deveria ocorrer na subesp. serpentinica.

2 comentários :

Anónimo disse...

Obrigado por mais uma possibilidade de visualizar mais uma daquelas plantas que só conhecia de nome!

ACarapeto

bea disse...

Desconhecia, não fiquei a conhecer. Mas já não desconheço.

E a mim me parecem algas marítimas que aterraram, têm a mesma delicadeza no erguer dos braços, a mesma aspiração verde. E o serem carnudas é densidade quieta onde as algas têm leveza e movimento.

Mas gostei de aprender sobre as plantas onde os pés saem de ser distraídos, ui, que é isto? piquei-me. Ou nem isso :)