01/07/2013

Erva dos bálsamos

Dittrichia graveolens (L.) Greuter


Há quem julgue que as flores silvestres aparecem apenas na Primavera. Só pode ser quem nunca repara nelas, ou quem as considera um adereço sem importância na paisagem. Porque mesmo quem assim pense, ou quem sem pensar dê por essa ideia alojada na cabeça, seria capaz, se a isso fosse desafiado, de encontrar por esses campos fora muitas plantas floridas em qualquer época do ano. Descartar as ideias equivocadas de que somos feitos é empreitada de monta, e só valerá a pena tentar tal esforço higiénico em assuntos importantes. É porém compreensível que um assunto para nós tão importante como as plantas silvestres não o seja em igual medida para toda a gente.

Deve reconhecer-se que, à nossa latitude, é entre Abril e Junho que a vegetação espontânea apresenta um colorido mais intenso e variado, por ser essa a época de floração escolhida pela maioria das plantas. Mas logo em Janeiro e Fevereiro há coisas imperdíveis, como os narcisos e o lírio-azul-de-Inverno, e mesmo quando o sufoco do Verão nos amolece os sentidos há plantas que nos interpelam carregadas de flores. Contudo, por a nossa disponibilidade já não ser a mesma, as plantas que se mostram fora da época alta têm menos gente a reparar nelas. E que dizer daquelas que à floração tardia juntam um défice de beleza e um gosto por habitats degradados? Só mesmo por coleccionismo botânico, como aquele que aqui praticamos, irá alguém assinalar-lhes a existência.

É essa a sina da Dittrichia graveolens, uma não muito atraente planta ruderal da família das asteráceas que floresce entre Julho e Setembro. O número de observações da espécie registadas no portal Flora-On estará ainda longe de reflectir a sua real distribuição no nosso país. Se o povo chegou a dar-lhe nome (erva-dos-bálsamos) não é por tê-la achado bonita, mas antes útil: trata-se de uma planta fortemente aromática, rescendente a cânfora, de que se preparam infusões com reconhecidas propriedades sudoríficas. E ficamos a saber que ao nariz sensível dos franceses repugna o cheiro a cânfora, pois a planta recebeu em terras gauleses o nome de inule fétide.

A Dittrichia graveolens, planta anual, muito glandulosa, com 25 a 50 cm de altura, nativa da Península Ibérica e de toda a bacia mediterrânica, é uma das duas ou três espécies de um género que, por mão do botânico W. R. Greuter, se emancipou em 1973 do género Inula. Muito mais abundante é a sua congénere D. viscosa (ínula-peganhenta), planta perene, lenhosa, de folhas largas, que nos últimos anos se tem vindo a expandir a bom ritmo por terrenos baldios de todo o país.

3 comentários :

bea disse...

Os franceses nunca tiveram um avô que, metódico, se esfregava com cânfora; ou não dariam à planta nome tão mauzinho: Uma amiga tinha uma arca de cânfora onde eu, desenfreada e lastimosa, passava o nariz; que a arca lá de casa não me afagava a pituitária:)

Cuco ramalheiro disse...

A propósito da reflexão que fazem neste artigo por Vós publicado, só queria dizer-lhes que têm toda a razão. É só gostar e abrir os olhos, elas, as flores, lá estão durante todo o ano. Mais discretas nos meses de verão, outono e inverno, mais exuberantes na primavera, acompanham-nos durante todas as estações transmitindo alegria e cor mesmo nos dias mais cinzentos.
Há imensa gente que gosta muito, mas muito de flores...nas jarras. Para essas pessoas as flores silvestres, aquelas que dão menos nas vistas, não passam de ervas que só incomodam. Passam pela vida sem nunca se agacharem para contemplar a beleza das formas e cores das flores que nascem pequeninas e discretas, mas cheias de beleza e encanto. Para quem anda um ano inteiro com trabalho, gastos, dedicação, cuidados de protecção, e ansiedade, para ver desenvolver-se o circulo completo, sementeira, germinação, crescimento, floração e maturação das sementes, ver este circulo interrompido pelo egoísmo de alguém, que só se preocupa com elas, para as surripiar e colocar em jarras...dói.
Ler e apreciar os Vossos artigos é mergulhar na natureza para conhecer e apreciar o que ela tem de mais encantador e deslumbrante.
Bem-hajam
M.Machado

Carlos M. Silva disse...

Olá.
Decerto que antes de 2015, quando a fotografei de forma amiúde cá em casa, numa das bouças, já a vira mas nem terei ligado. Em 2015 prestei atenção e ei-la por cá, na Maia, e portanto poderei fornecer o NF36 para o Flora On (se ainda for capaz de recuperar o email com lhes forneci uma ou outra, já que nunca me atrevi a colocar directamente com a password que me terão fornecido e que nunca usei).
NOTA: estranhamente não terei conseguido localizar no v/ vosso blog quando a pesquisei; e só há dois dias, quando pesquisei por Valongo é que a encontrei. E fiquei convencido que é mesmo esta, uma de duas Dittrichia que tenho por cá. Fornecerei ao Naturdata e tentarei enviar ao Flora On.
Abraço
Carlos M. Silva