02/11/2013

Nome digital


Nothobartsia asperrima (Link) Benedí & Herrero


Quando a vimos pela primeira vez, era ainda Inverno, ela exibia, no meio de rochas calcárias da serra de Sicó, apenas uma haste de folhas novas e lustrosas, de cor verde escuro, que nos fizeram lembrar a Euphrasia azorica. Consultadas algumas Floras, conjecturámos que se trataria de uma Nothobartsia — que, como o nome indica (nothos é o termo grego para "falso" e, em latim, notho também se refere a bastardo, não legítimo, como a luz da Lua), é parecida com as plantas do género Bartsia. Houve quem lhe chamasse Euphrasia aspera (Brotero em 1804) e Bartsia asperrima (Sampaio em 1913), mas ainda hoje se discute se deve ser Nothobartsia aspera (designação proposta por Bolliger & Molau em 1992) ou Nothobartsia asperrima (nome proposto por Benedí & Herrero em 2005). Não se tratando exactamente de uma maior ou menor sensibilidade do taxonomista à textura rugosa e peluda dos caules e folhas desta herbácea, a Flora Ibérica decidiu-se pelo último nome, com o fundamento de que a alternativa seria ilegal à luz do código da nomenclatura botânica.

Controvérsias à parte, o que nós queríamos mesmo era ver a planta com flores, que são amarelas com pequenas bossas eivadas de roxo ou vermelho. Ora, as plantas, ao contrário dos bichos e das pessoas, estão presas ao chão, muitas vezes a pequena distância das plantas vizinhas, e não têm meios para arredarem pé e mudarem de casa nem quando são já adultas. Por isso, se o cenário onde moram não estiver em vias de requalificação, não passar por lá a brigada da limpeza-de-bermas, nem lá se instalar entretanto uma pedreira, basta uma nova viagem na altura da floração para reencontrar a planta, desta vez florida. Dito e feito: no fim de Agosto voltámos à serra para conferir a identificação dela e o seu carácter (muito) áspero. A população maior e mais fácil de fotografar que conhecemos está, porém, na serra de Aire, ao cimo de uma ladeira com cerca de 800 m de extensão, carregada de tomilho, roselha-grande, carrascos e azinheiras, além de várias preciosidades.

Esta planta é perene, de base lenhosa, semi-parasita, com ramagem ramificada e talos que podem chegar a um metro de altura. É quase um endemismo ibérico, do sul e oeste da Península Ibérica, havendo também registo da sua presença no norte de Marrocos. Há quem assegure que, em português, o nome vernáculo é escamédrio, mas esta palavra não consta de nenhum dicionário da língua portuguesa que conheçamos.

1 comentário :

Carlos M. Silva disse...

Olá

Já uma vez aqui li que faça sol ou chuva aí vão vocês (acho que brincavam com o facto da maior parte dos trabalhos de campo, dos botânicos profissionais evitar o Inverno). E decerto só mesmo vocês para no Inverno encontrarem um esqueleto de planta ..e logo imaginarem as flores que haveriam de ver mal o Verão chegasse.

Óbvio que na zona de Sicó (no Poio, e Sicó é bem mais que o Vale do Poio) nunca a vi nas 3 ou 4 vezes que lá fui. Mas entende-se ..o Agosto é como se me fosse mês de Inverno e nunca lá fui nessa época. E quando fui ..também não vi 'esqueleto de planta que me falasse' para lá voltar.
Mas foram vocês ..e eu também, aqui, pelas vossas palavras e fotografias.

Obrigado e abraço.
Carlos