19/11/2013

Quatro, cinco ou nada



Potentilla anglica Laichard.


É comum nos Açores, entre a vegetação dos sítios húmidos (categoria que inclui a maior parte dos espaços naturais do território), encontrar em profusão as pequeninas flores amarelas (uns 5 a 8 mm de diâmetro) da tomentilha, ou Potentilla erecta de seu nome científico. A mesma planta é frequentadora assídua de habitats semelhantes em território continental, mais típicos da metade norte do país. Uma variação dessa planta, a Potentilla reptans, distingue-se por ter flores de cinco pétalas (as da P. erecta costumam ter quatro), pelo seu hábito prostrado (o caule enraíza nos nós), e pelas folhas mais largas, com maior número de folíolos. Em Portugal continental a P. reptans aparece no leito de cheia de alguns rios e ribeiros, apreciando particularmente as margens de calhau rolado. Nos Açores, onde é tida, com alguma incerteza, como exótica naturalizada, vê-se raramente, e só em quatro ilhas do arquipélago: São Miguel, São Jorge, Pico e Corvo.

Para compensar essa escassez, ocorre em todas as ilhas açorianas a Potentilla anglica, que não aparece no continente. Uma comparação das fotos acima com as da P. reptans torna clara a afinidade entre as duas espécies. De facto, a forma mais segura de as destrinçar é notar que a primeira sofre de uma hesitação patológica quanto ao número de pétalas com que enfeita as flores: a mesma planta tanto as dá com quatro como com cinco. Nesse e noutros detalhes morfológicos a P. anglica apresenta um carácter vincadamente intermédio entre a P. erecta e a P. reptans. A suspeita de que tenha origem numa hibridação entre as duas espécies é reforçada pela contagem dos cromossomas: a P. anglica é tetraplóide (56 cromossomas) e as outras duas são diplóides (28 cromossomas).

Ainda que não seja improvável vê-las juntas, a P. erecta e a P. anglica mostram, nos Açores, preferências ecológicas distintas. A P. anglica adopta um comportamento mais ruderal e frequenta locais mais secos, aparecendo mesmo em bermas de estrada e em caminhos de saibro. Ambas têm um perído floração alargado, que começa cedo na Primavera e se estende até Novembro.

3 comentários :

bea disse...

Tão bonitinha a planta. Parece um morangueiro de flor amarela:) Perdoem-me a comparação, já sei que devem ser diferentíssimas. Mas foi a primeira impressão.

Paulo Araújo disse...

A comparação é apropriada: a planta é de facto parecida com o morangueiro, tanto na folhagem como nas flores (apesar da diferença de cor); os frutos é que não se parecem nada com morangos. E há plantas do género Potentilla que são ainda mais semelhantes a morangueiros (como esta aqui).

bea disse...

Tão airosa e com recorte de desenho, a plantinha potentilla. As pétalas são mesmo assim ou foi insecto a roê-las? Se foi, há que dar os parabéns ao insecto. Estão umas dentadinhas impecáveis.

Obrigada pela informação. E parabéns pelo blogue.