18/02/2014

Esplendor púrpura


Luzula purpureo-splendens Seub.


Quem no início de Junho visitar a zona central da ilha das Flores, não deixará de notar, assomando entre os almafadões de Sphagnum um pouco acima da altura do joelho, uma profusão de inflorescências vermelhas encimando esguias hastes. Se a névoa for tão espessa que não deixe sequer adivinhar as lagoas, a impressão é de estarmos mergulhados numa grande taça de morangos com chantilly. Bom, talvez essa imagem só ocorra a quem seja dotado da visão privilegiada dos míopes, e em todo o caso é uma absurda quantidade de chantilly para tão diminutos "morangos". Se alguém tiver uma comparação mais sugestiva para essa substância envolvente, leitosa, semi-opaca, esparsamente pontilhada de vermelho, então esteja à vontade para reescrever o texto.

O vermelho-púrpura da Luzula purpureo-splendens vem não só das tépalas das flores mas também das brácteas na base das inflorescências. À medida que as flores se desenvolvem, as tépalas abrem e deixam ver o branco luminoso dos estigmas e das anteras. Quando os frutos estão formados, o vermelho converte-se em castanho. Chegando Agosto, já as sementes foram disseminadas e não sobram vestígios da haste floral. A parte visível da planta reduz-se agora a um tufo de folhas compridas e brilhantes, com margens ciliadas.

O saragasso, nome pelo qual é conhecido no arquipélago, é um endemismo açoriano que só não ocorre nas duas ilhas menos húmidas, Graciosa e Santa Maria. Dá provas, apesar disso, de alguma versatilidade ecológica, pois nas Flores está presente desde os sítios mais encharcados da parte alta da ilha até às pastagens comparativamente secas próximas do litoral. Quando, porém, nessa ilha tão vertiginosamente escarpada, temos o mar quase debaixo dos pés, a queda ainda pode ser superior a 300 metros. Como nesta imagem da descida para a Fajã Grande, em que um velho cedro-do-mato (Juniperus brevifolia) tem a rodeá-lo à direita um molho de saragassos, e à esquerda um tufo de fetos-pente (Blechnum spicant).

2 comentários :

bea disse...

Mas como é que deste verde alado nascem pétalas como asas (certo, inflorescências), em brancura de pássaro que quer voar? a natureza tem seus caminhos de beleza. Não há dúvida.

Maruxanascimento @ gmail.com disse...

Parabens por este blog,
Nāo conheço as ilhas,que bem gostaria,pois sempre mas descreveram como jardins naturais e parece que assim é........
Felicidades desde a Galiza