Bicho com raízes
Doronicum plantagineum L.
Asseguram certas fontes, entre elas o portal espanhol Anthos, que em português este malmequer se chama raiz-de-bicho, numa provável ainda que misteriosa alusão ao seu carácter estolonífero. Essa informação não é corroborada por nenhum dos livros ou portais portugueses que pudemos consultar. É de facto estranho que uma planta rara e sem usos culinários ou medicinais conhecidos tenha merecido do nosso povo a graça de um baptismo. Que seja há muito usada como ornamental em países de onde não é originária (como a Inglaterra, onde está naturalizada desde o final do século XVIII) não é argumento pertinente, pois a beleza não enche a barriga nem serve para curar maleitas, e aqueles dos nossos antepassados que tiveram posses e vagar para manter jardins preferiram recheá-los com plantas importadas.
Se o alegado nome comum em português é uma invenção bem intencionada de quem nos quer enriquecer a língua, e certamente não é usado por ninguém, já o enigmático nome em inglês, leopard's bane, é de uso corrente para as várias espécies de Doronicum com firme reputação em jardinagem. São plantas vivazes com grandes capítulos solitários a rematar compridas hastes, que florescem no início da Primavera e se recolhem ao solo quando a estiagem aperta, e são adeptas da meia sombra proporcionada por bosques de folhosas. O Doronicum plantagineum, nativo de Portugal e da metade oeste da bacia mediterrânica (Espanha, França, Itália, Tunísia, Algéria e Marrocos), é, com os seus 60 a 80 cm de altura, dos mais elegantes do género, distinguindo-se pelas folhas ovaladas maioritariamente basais, com as escassas folhas caulinares quase abraçando o caule.
Já Abril tinha ficado para trás, e com ele o pico da floração, quando encontrámos, não sem ajuda, estes poucos exemplares de D. plantagineum na margem direita do rio Côa. A pesca da truta já foi uma actividade popular no troço do Côa em Sabugal antes de as barragens e a poluição desfalcarem a vida aquática. Como compensação, existe agora um viveiro de trutas onde se pode pescar, com sucesso garantido, mediante pagamento de bilhete. Nem tudo são perdas, pois talvez a vegetação ribeirinha beneficie por não haver tanta gente a pisoteá-la. E o Doronicum plantagineum, presente embora de norte a sul do país, é tão esporádico e escasso (ver aqui um mapa de distribuição) que qualquer local de ocorrência deveria ser salvaguardado.
amieiros (Alnus glutinosa) nas margens do Côa, em Vale de Espinho
2 comentários :
Olá (e bem vindos, no caso desta entrada, bem idos para férias).
Terei talvez dois registos desta planta, sendo que um deles é de Sicó, do Canhão do Poio. E pelo pouco que 'disto conheço' foi com surpresa que vendo-a na caminhada que fiz em Maio/2013, avancei nos passos, mas logo depois voltei atrás porque algo não batia certo com o que o cérebro vira: 'ora bolas, ia desprezar-te como mais uma amarela mas não; és bem distinta; raios ..nunca vi destas folhas'.
De facto terão sido as folhas e as sépalas a chamar-me a atenção, coisa que depois pude comprovar no portal Flora On. E claro imagino que seja a espécie e subespécie que lá está indicada.
Como bem dizem ..estranha planta que bem se assinala como distinta.
Abraço
Carlos M. Silva
Olá, Carlos.
Bons olhos te leiam. Este Doronicum parece ser uma daquelas raridades que, não deixando de ser (muito) escassas, podem aparecer nos lugares mais inesperados. Encontrá-las talvez seja uma questão de sorte, aliada ao não pequeno mértio de manter os olhos abertos. No nosso caso nem uma coisa nem outra, pois de facto tivemos ajuda neste feliz encontro.
Abraço,
Paulo
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