23/06/2015

O veneno que se cuide

Em Outubro de 2013 falámos aqui do Vincetoxicum nigrum, uma planta de flores minúsculas com um tom incomum de vermelho. Nessa altura, especulámos sobre a possibilidade de encontrar plantas da outra espécie de Vincetoxicum que ocorre em Portugal, o V. hirundinaria. Como sugere o nome, é igualmente útil como antídoto para o veneno de cobras, sendo conhecida popularmente como erva-contraveneno; o epíteto hirundinaria (de hirundinis, andorinha em latim) recorda que os frutos desta planta parecem a cauda daqueles passarinhos em voo (e, em inglês, a designação comum da planta é precisamente swallow-wort).

Efectivamente, em Junho do ano seguinte encontrámos, no Gerês, junto ao rio Maceiras, uma planta solitária desta espécie, pequenina e sem flores. Magra recompensa para quem esperou tanto. Contudo, no mesmo local havia vários exemplares floridos de Thymelaea broteriana, além de Laserpitium eliasii, e a desilusão amainou. Ficou-nos a vontade de regressar este ano para procurar de novo, mas melhor, o segundo Vincetoxicum.


rio Minho em Monção
Mas, afinal, não foi preciso. Como sabem, temos ido passear às pesqueiras do rio Minho, seja para rever o Allium scorzonerifolium, a Spirea hypericifolia, a Veronica montana ou a Nymphoides peltata, seja para explorar mais algumas das formações rochosas que guarnecem as margens do rio. E, no topo de uma delas, a encher as fendas, encontrámos esta magnífica população de V. hirundinaria em flor.



Vincetoxicum hirundinaria subsp. lusitanicum Markgr.


É uma herbácea perene que, ao contrário do V. nigrum que aprecia nichos ensombrados, precisa de luminosidade e de solo relativamente seco. É quase glabra e as flores, que nascem no fim da Primavera ou já no Verão, surgem em cachos de 5 a 12 nas axilas das folhas ou no topo dos caules. Os frutos (penúltima foto), com uns 5 centímetros de comprimento, são fusos que terminam num pico (os chamados pimientos-do-monte); e, quando secos, abrem-se longitudinalmente para libertar as sementes que esvoaçam com a ajuda de um penacho.

É nativa da Europa e Ásia, mas as Floras europeias aludem a várias subespécies, destacando diferenças na cor das flores (mais ou menos verdes ou brancas) e no comprimento dos pedúnculos. As plantas que ocorrem no norte de Espanha e noroeste de Portugal correspondem, em alguns desses textos, à subespécie lusitanicum; tal distinção, porém, não foi acolhida pelos autores do capítulo correspondente na Flora Ibérica.

2 comentários :

ZG disse...

WOW! Este é um superblog, sem dúvida!!

Carlos M. Silva disse...

Espantoso.
A vossa demanda detectivesca pelos recantos mais ou menos escondidos da maioria dos 'mortais' traz-vos recompensas que aos outros, os tais mortais ..e mortais porque se mexem muito pouco quando comparados convosco, nem em sonhos aparecem.
Abraços e venham mais espantos de vossa autoria.

Carlos M. Silva