Flora endémica do Porto Santo: Echium portosanctensis
Echium portosanctensis J. A. Carvalho, Pontes, Batista-Marques & R. Jardim




Responsáveis por uma vasta mancha roxa que enfeita agora os nossos prados e terrenos baldios, as plantas do género Echium são vulgares no nosso território e resistentes a muitos dos riscos a que estão sujeitos nestes habitats. Não são especialmente bonitas, com excepção do raríssimo E. boissieri, mas em conjunto garantem uma nota colorida nos campos e são fonte importante de alimento para as abelhas.
As espécies que existem no arquipélago da Madeira destacam-se das continentais pelo porte arbustivo e pelas inflorescências cilíndricas exuberantes. Sabe-se hoje que essas espécies de Echium derivam de uma herbácea do continente europeu, conclusão fundamentada num estudo genético conduzido, em 1996, por Böhle e colaboradores. E, de facto, a um olhar desatento, as plantas de Porto Santo talvez pareçam todas iguais, e semelhantes ao endemismo madeirense E. nervosum (foto em baixo). Porém, anos antes, já havia sido notado, em obras sobre a flora da Madeira, que alguns espécimes em Porto Santo se distinguiam pela corolas branco-rosadas, com estames de cor carmim e anteras azuis, e um anel branco (que surge na 4ª foto) no topo da inflorescência, que é mais pequena que a do E. nervosum. E, decerto, também terão reparado em diferenças na forma e textura das folhas, e no tipo de pêlos que as protegem.

Depois de termos visto o E. nervosum plantado em jardins e bermas de estrada em vários locais da ilha, foi o E. portosanctensis que procurámos na subida ao Pico Branco, montanha com cerca de 450 metros de altura máxima e um percurso assinalado até ao topo, protegido aqui e ali por uma balaustrada firme de madeira. A flora interessante está nas encostas mais ou menos escarpadas que ladeiam o caminho e, confirmámos, o Echium portosanctensis acompanha-nos esparsamente durante quase toda a subida. A distribuição conhecida do E. portosanctensis restringe-se a este pico e ao Pico da Gandaia, com um total de cerca de mil indivíduos. Não surpreende que conste da lista vermelha internacional de espécies em risco.

Pico Branco, ilha do Porto Santo
4 comentários :
Que belas são e que bela é a deste post.
Pena que quando por lá vivi um ano e visitei e percorri Porto Santo, não 'sabia o que era a Botânica'.Foram outras as coisas que chamaram o olhar, certamente. E como não mais voltei ..
Olhando o Echium de Porto Santo, eu nem seria capaz de o catalogar como Echium!!!
Abraço e obrigado por mostrarem o que há mais de 20 anos não cheguei a ver.
Carlos
Com elevado interesse geológico, a última foto, exibindo magnificamente a disjunção prismática do basalto, é tão importante e pedagógica como o são, a outro nível, os endemismos botânicos da Madeira e do Porto Santo.
Em Portugal continental, este fenómeno geológico da disjunção prismática do basalto ocorre no penedo do Lexim, nas proximidades de Mafra. Embora restrito e de dimensão relativamente pequena, trata-se de um geomonumento a preservar (e mostrar) tal como o de Porto Santo, mais espectacular, porque em maior escala.
Belas fotos, como é comum no "Dias com árvores". Parabéns.
Uma ilha realmente fascinante!!
Prazer em conhecer a espécie com inflorescência tão garrida.
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