Super-chícharo das altas montanhas
Lathyrus laevigatus subsp. occidentalis (Fisch. & C. A. Mey.) Breistr.
[sinónimo: Lathyrus occidentalis (Fisch. & C. A. Mey.) Fritsch nom. illeg.]
[sinónimo: Lathyrus occidentalis (Fisch. & C. A. Mey.) Fritsch nom. illeg.]
As altas montanhas onde vive o super-chícharo são os Alpes, os Pirenéus e a cordilheira cantábrica. Não é nos cumes gelados que ele encontra o seu lugar, mas no aconchego reconfortante dos bosques das encostas e do sopé dos montes: segundo a Flora Iberica, a sua zona de conforto altitudinal situa-se entre os 400 e os 2100 metros. E foi a uns 1000 metros de altitude, numa estrada sinuosa ensombrada por faias (Fagus sylvatica), que o aviso laranja dos seus cachos de flores nos obrigou a uma paragem de emergência.
O nome super-chícharo que atribuímos a este Lathyrus justifica-se pelo espanto de boca aberta que ele nos provocou. Só uma demorada consulta dos manuais nos permitiu enquadrá-lo num género ao qual nunca suporíamos que pertencesse. As espécies de Lathyrus em Portugal (confira aqui), ainda que muito variadas, não têm flores desta cor, nem dispostas em espigas como velas acesas. As folhas compostas pinadas, desprovidas de gavinhas, são tão grandes que fazem lembrar as das glicínias (Wisteria sinensis). E os caules erectos e robustos não são guarnecidos pelas membranas laterais que caracterizam muitos dos nossos chícharos (exemplos: 1, 2).
Tratando-se de planta tão vistosa, quem viva em climas temperados mas frescos pode até encomendar sementes para com ela ajardinar o bosque nas traseiras de casa. A fama e do proveito não a livram contudo da controvérsia taxonómica, havendo quem a subordine, como subespécie, a Lathyrus laevigatus, e outros que a promovem a espécie autónoma, sob o nome de Lathyrus occidentalis. A primeira opção parece mais razoável, porque as diferenças entre a subsp. occidentalis (de que aqui tratamos) e a subsp. laevigatus (que ocorre na Europa do Leste e na Rússia ocidental) são de pouca monta, resumindo-se à indumentação (a primeira é algo pubescente, a segunda quase glabra), à largura dos folíolos (os da segunda são um pouco mais largos) e ao comprimento dos dentes do cálice. A Flora Iberica alinhou pelos autonomistas, mas o nome que escolheu padece de ilegalidade: Karl Fritsch, ao chamar em 1895 Lathyrus occidentalis a esta planta, repetiu um nome que tinha sido usado em 1838 por Thomas Nuttall para designar uma espécie completamente diferente (tida hoje como sinónimo de Lathyrus palustris L.). Quando um mesmo nome é usado para coisas diferentes, o Código Internacional de Nomenclatura Botânica (ICBN) impõe que só é aceite o uso validado pela publicação mais antiga. Resumindo: para poder apresentar-se como espécie independente, falta a este super-chícharo um nome válido à luz do ICBN.
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