09/03/2019

Mostarda das mil folhas


Descurainia millefolia (Jacq.) Webb & Berthel.


Não consta que a planta acima exposta tenha vocação culinária, mas o nome com que a apresentamos desculpa-se porque ela, além de pertencer à mesma família botânica, dá flores amarelas como as verdadeiras mostardas (Sinapis alba ou Brassica nigra). As mil folhas mencionadas em título aparecem também no nome científico, e tanto podem dever-se ao óbvio carácter folharudo da planta como à semelhança dessas mesmas folhas com as da Achillea millefolium, conhecida em Portugal como milefólio ou milfolhada.

O polissilábico nome genérico Descurainia homenageia o francês François Descourain (1658-1740), médico, boticário e naturalista numa época em que essas ocupações se confundiam. Com essa informação percebemos que a pronúncia correcta de Descurainia até para os franceses há-de ser um mistério. Mais importante é saber que na flora europeia o género é representado por uma única espécie, Descurainia sophia, herbácea anual de porte elevado (até 1 m de altura) e distribuição cosmopolita que também ocorreria no nosso país mas não é aqui vista há décadas, e que na América do Norte há pelo menos treze espécies nativas. As Canárias contam com sete espécies de Descurainia, todas endémicas, já não herbáceas anuais mas sim plantas arbustivas de base lenhosa, três delas presentes em Tenerife.

A Descurainia millefolia é frequente em Tenerife em ladeiras secas a altitudes pouco elevadas, entre os 200 e os 1000 metros. Atinge não mais que um metro de altura e as suas folhas são tripinadas, surgindo em tufos nas extremidades dos ramos. As flores amarelas apresentam as quatro pétalas em cruz que são de lei na família das crucíferas. A foto acima mostra umas flores bastante estranhas, pois o normal é que fossem como o leitor pode ver nesta página. Talvez a floração fora de época (em Dezembro quando deveria ser de Março a Maio) tenha levado a planta a inovar no design das pétalas, mas o mais provável é tratar-se de uma anomalia sem cura possível. Nada de inédito: grande parte do comércio hortícola passa por domesticar e reproduzir as aberrações que, uma vez por outra, são produzidas espontaneamente em estirpes de plantas até então normais. Talvez tenhamos desperdiçado um grande negócio ao não colhermos sementes deste anómalo exemplar de Descurainia millefolia.

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