Histórias da Lista Vermelha: Genista berberidea
Quando se invoca a necessidade da limpeza de matos para minorar o risco de grandes incêndios, é de giestas, tojos e urzes que estamos a falar. Mais recentemente, esses arbustos passaram simplesmente a ser chamados de combustíveis, como se o facto de arderem quando se lhes pega fogo os singularizasse entre tudo o que existe à face da Terra. Assim, em vez de limpeza de matos ganhou voga a expressão controlo de combustíveis, tarefa para a qual pareceriam mais vocacionados os proprietárias de postos de gasolina do que os velhos aldeões do nosso despovoado interior.
Uma característica irritante do mato é que depois de cortado (ou de ardido) ele rapidamente volta a crescer. Desta verdade elementar parecem não ter noção aqueles citadinos que lamentam haver ainda, passado mais de ano e meio sobre os catastróficos incêndios de 2017, tanto mato para desbastar por esse país fora. Mesmo que se lhes mova guerra sem tréguas, com o país invadido por afincados exércitos de roçadores, as giestas, tojos e urzes crescerão sempre mais depressa do que podem ser cortadas.
Parece assim ponto assente que essa classe de plantas não tem problemas em crescer e multiplicar-se, e delas não esperaríamos que integrassem uma lista vermelha da flora. Se por absurdo estivessem em risco, então a guerra contra elas estaria a ser ganha, com a consequente diminuição generalizada do risco de incêndio. Quem acharia isso uma má notícia? Resposta: todos aqueles para quem "ecologia" não é palavra oca e que não anseiam por viver num deserto.
O problema é que nomes como "giesta" ou "tojo" aplicam-se a uma profusão de diferentes plantas leguminosas, algumas vulgares ou mesmo abundantes em vastas zonas do país, outras raras e ameaçadas, por vezes com áreas de distribuição muito restritas. Só do género Genista existem em Portugal continental quinze espécies. Às que são espinhosas, como a que mostramos nas fotos, é costume chamar tojos, embora essa designação seja mais própria dos arbustos do género Ulex, de que também não são poucas (dez) as espécies portuguesas.
Na Lista Vermelha da Flora de Portugal, a Genista berberidea está classificada como "Vulnerável". É um arbusto que atinge metro e meio de altura e se apresenta como um emaranhado de ramos espinhentos, com as folhas curiosamente aglomeradas nas extremidades dos curtos raminhos laterais. Endémico da Galiza e do noroeste de Portugal, vive em turfeiras, prados húmidos e margens de linhas de água. A sua presença foi assinalada na serra do Caramulo, no Grande Porto e em vários locais do Minho; mas a destruição generalizada do habitat fez com que hoje em dia, na maioria dos raros lugares onde subsiste, ele surja em muito escasso número. A única excepção a este triste panorama acontece no topo da serra de Arga, onde se mantém uma boa população totalizando duas a três mil plantas, perfeitamente adaptadas à herbivoria de vacas e garranos. Na Primavera de 2018, um frio inesperado, com neve à mistura, atrasou por algumas semanas a floração, que decorre por um período curto e costuma iniciar-se nos finais de Março.
O epíteto berberidea não remete para o norte de África, mas sim para o género Berberis, com o qual Johan Lange (1818–1898), que baptizou esta Genista, considerou ter ela afinidades. De facto, tanto a Berberis vulgaris como a Genista berberidea são pequenos arbustos espinhentos, e as folhas de ambos não são totalmente dissemelhantes.
1 comentário :
Em Valongo, perto da aldeia de Couce, também existe uma pequena população. Só para deixar a informação caso não seja do vosso conhecimento.
João Nunes
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