06/03/2020

Salada de estrelas

São duas as estrelas, ambas de Lanzarote, que hoje disputam a nossa atenção. A referência aos corpos celestes não está apenas em Asteriscus, nome do género a que as plantas pertencem e que significa pequena estrela, mas também na própria família, Asteraceae, em que elas estão filiadas. É curioso assinalar que as estrelas não seriam para aqui chamadas se há dez ou vinte anos falássemos das mesmas plantas: em vez de Asteriscus, elas integravam então o género Nauplius; e a família Asteraceae era designada por Compositae. Dessas mudanças, a segunda reflecte apenas uma actualização da nomenclatura, em obediência à regra de que o nome de cada família botânica deve derivar do género que a tipifica e não de alguma característica morfológica das plantas da família (assim, tal como Compositae passou a Asteraceae, que vem de Aster, também Leguminosae passou a Fabaceae, que vem de Faba, e Palmae passou a Arecaceae, que vem de Areca). Quanto à substituição de Nauplius por Asteriscus, isso não corresponde a uma mudança de género, mas sim a uma absorção de um género por outro. Entendeu-se que não havia diferença relevante entre Nauplius e Asteriscus, passando os dois géneros a ser um só; e, para o género resultante da unificação, as regras da nomenclatura botânica impuseram o uso do nome mais antigo, que é Asteriscus. Ao mesmo tempo que era reforçado com novas aquisições, o género Asteriscus via-se despojado de algumas das suas espécies emblemáticas, entre elas uma das plantas mais bonitas da Costa Vicentina, que mudou de Asteriscus maritimus para Pallenis maritima. O resultado da dança de nomes é que nove das dez espécies actuais de Asteriscus eram antes Nauplius. E quatro delas são endémicas (ou quase endémicas) das ilhas Canárias.


Asteriscus intermedius (DC.) Pit. & Proust [= Nauplius intermedius (DC.) Webb]


À excepção de uma herbácea anual (A. aquaticus), os Asteriscus são plantas de caules lenhosos que formam pequenos e intrincados arbustos, com folhas sésseis, mais ou menos espatuladas, dispostas em espiral. As brácteas involucrais são longas e verdes, semelhantes às folhas, e os capítulos de centro amarelo exibem numerosas lígulas também amarelas – brancas apenas no caso do A. schultzii.

O Asteriscus intermedius (em cima) é muito frequente em Lanzarote, e é provável que seja endémico dessa ilha, sendo dúbia a sua presença em Fuerteventura. Tem uma atraente folhagem acetinada e floresce mais intensamente entre Janeiro e Junho. Os seus abundantes capítulos amarelos têm de 2,5 a 3,5 cm de diâmetro. Em Fuerteventura existe uma espécie endémica semelhante, A. sericeus, de capítulos maiores e folhas mais largas.

O Asteriscus schultzii (em baixo) compensa o porte rasteiro pela beleza da floração. Tem uma distribuição mais ampla do que o seu congénere – ocorre em Lanzarote, Fuerteventura e no sudoeste de Marrocos – mas é raro e com populações muito esparsas, e à escassez populacional junta-se a ameaça da colheita para fins ornamentais. Em Lanzarote está apenas presente na zona de Famara, tanto sobre areias como entre os matos ralos que revestem a base das falésias.


Asteriscus schultzii (Bolle) Pit. & Proust [= Nauplius schultzii (Bolle) Wiklund]

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