05/01/2021

Tamujo continental

O Pico da Melriça, no concelho de Vila de Rei, em Castelo Branco, é um monte com cerca de 600 metros de altura, no topo do qual se ergue um marco geodésico. Assinala o centro geográfico de Portugal continental, uma aproximação do centro geométrico do país, obtida supondo-se que Portugal continental é uma região homogénea e plana, ainda que não exactamente um rectângulo. Igualmente interessante é o centro demográfico do país, que em geral varia com o tempo pois a distribuição da população pelo nosso território não é fixa. O centro demográfico de Portugal encontrava-se, em 1864, a cerca de 17 km a leste de Coimbra. Com a emigração das décadas de 60 e 70 do século XX, o êxodo das regiões rurais do interior e a maior concentração de população no litoral, o ponto que representa este centro moveu-se, de acordo com os recenseamentos mais recentes, para sul e para oeste, estando agora mais perto de Lisboa.



Esta movimentação da população portuguesa tem tido, naturalmente, impacto na natureza. Parece certo que no interior do país muitas espécies ganharam novo fôlego com a ausência de gente, embora a construção de barragens, o desvio de caudais por causa de novas estradas e a ruderalização de leitos de cheia com edifícios ou eucaliptos continuem a ser ameaças reais à biodiversidade nesses locais agora despovoados. Entre as vítimas desta errância populacional está a vegetação ripícola. Onde a incidência demográfica se intensifica, a vegetação ribeirinha vai perdendo o seu espaço, e não será surpresa que a área de distribuição de alguns dos arbustos que bordejam cursos de água retroceda para leste tão decididamente quanto o centro demográfico avança para oeste.

Flueggea tinctoria (L.) G. L. Webster


A destruição dos habitats ribeirinhos mais perto do litoral pode estar a confinar o tamujo, que prefere solos arenosos e bem drenados, ao interior centro da Península Ibérica. Este arbusto espinhoso, e muito ramificado, é um endemismo ibérico de que em Portugal só há registo nas bacias do Alto Douro, Alto Tejo e Guadiana. Fica-se portanto por uma faixa estreita a leste do país, com núcleos bastante dispersos, como se pode notar neste mapa.

O tamujo pode atingir os 2 metros de altura, é dióico e tem folhagem caduca. Os ramos finos cheios de espinhos são avermelhados, por isso fáceis de detectar no Inverno. As flores, que nascem na Primavera, são minúsculas e têm um tom geral esverdeado; não usam pétalas, mas agasalham-se com brácteas nas axilas das folhas. O género Flueggea tem representantes na Ásia, em África e na América do Sul, além da espécie ibérica. O nome homenageia o botânico alemão J. Fluegge e o seu vasto trabalho sobre gramíneas (plantas a que poucos dão a devida atenção).

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