Comunicando por aromas
Há uns anos, a revista Scientific American deu conta da morte quase em simultâneo de centenas de antílopes no sul de África. A época do ano ia extremamamente seca e quente no local, e a fome foi a primeira causa a ser ponderada — logo excluída, porém, ao saber-se que os animais tinham morrido envenenados. Como? Comeram folhas de acácia, a fonte usual de alimento para os antílopes. Mas então o que se passou?
Em geral, as plantas apreciam que os seus frutos sejam consumidos pelos animais que, juntando o útil ao agradável, ajudam na dispersão das sementes. Já no que toca às flores, folhas, talos ou raízes, as plantas fazem o que podem para os salvaguardar: protegem-nos com espinhos, brácteas robustas, glândulas urticantes, odores desagradáveis, e até veneno. Fabricar estas armas custa muita energia, e por isso muitas plantas possuem mecanismos que lhes permitem activar ou acelerar estes procedimentos para não estarem sempre com eles ligados. E a família das leguminosas é especialmente ágil a mobilizar esta estratégia defensiva, capaz de conspirar contra os predadores. Durante estios secos e prolongados, quase despidas de folhagem e com parcas condições de sobrevivência, estas plantas receiam pela vida. E a primeira a que os bichos famintos se encostam com o dente aguçado emite de imediato um sinal de alarme (um odor) a avisar as plantas vizinhas da proximidade de herbívoros. Estas, numa reacção cuja rapidez nos surpreende em seres tão imóveis e tranquilos, tratam de produzir mais toxinas e, em menos de meia hora, as suas folhas, antes inofensivas, transformam-se em pratos de veneno mortal. Decerto, ao fim de muitas gerações, os antílopes aprenderão a evitar estas folhas tóxicas em tempos de seca extrema. Mas com as alterações do clima a ocorrerem tão depressa, é real o risco de muitas espécies não terem tempo para aprender.
Este arbusto de pequeno porte, folhas compostas e lindas flores amarelas (com pintas no estandarte) que vimos perto da fonte Benémola, no Algarve, também é tóxico. O povo espanhol, avisado, chama-se leño hediondo, altramuz del diablo e collar de bruja. É frequente na região mediterrânica, surgindo em matos, baldios e bermas de caminhos, e outrora ter-se-á usado para tornar mais mortíferas as pontas das lanças. Nas Canárias ocorre uma espécie de morfologia muito semelhante, a Anagyris latifolia, um endemismo destas ilhas com folhas grandes que pode atingir os 5 metros de altura.
Sem comentários :
Enviar um comentário